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quinta-feira, 10 de maio de 2012

É melhor viver do que conhecer?



Por André R. Fonseca

Muitos defendem que é melhor viver os ensinamentos bíblicos do que conhecer a Bíblia através de estudos teológicos e acadêmicos.

Eu não teria dificuldade alguma em concordar com essa proposta se ela não escondesse uma tentativa de menosprezar o zelo de alguns pelo conhecimento acadêmico do conteúdo bíblico. Quem vai para o seminário ou faz investimento em dinheiro e tempo por conta própria para estudar geografia bíblica, teologia sistemática/bíblica, etc., acaba sendo discriminado sem motivo.

Puro preconceito! Dizer que é preciso “ter vida com Deus” é o argumento mais apelativo dos ignorantes. Quem pode medir “a vida com Deus” do crente? Não é possível, graças a Deus, medir a espiritualidade de cada pessoa na igreja; se fosse possível, seria difícil esconder-se por trás de falsa religiosidade... Se quem estuda é acusado em não apresentar um ou muitos elementos do fruto do Espírito como medida dessa espiritualidade esperada com sua “vida com Deus”, eu pergunto: Estamos em uma disputa por produção de fruto? Alguém está em condição de gabar-se por santidade maior do que a de outro irmão qualquer? Somos biblicamente recomendados a medir os outros pela nossa medida? Somos recomendados a tomar quais medidas quando nos deparamos com as fraquezas dos irmãos? Se o irmão que estuda e busca conhecimento não apresenta algum fruto que você julga ser sinal de falta de “vida com Deus”, olhe primeiro para a sua própria vida e veja se você tem condições de fazer esse julgamento.

O anti-intelectualismo é como uma catarata da visão espiritual, que vai cegando o crente aos poucos, transformando as verdades cristalinas do evangelho em imagens cada vez mais opacas e indiscerníveis... Quem não se aprofunda no conhecimento paralelo ao conhecimento bíblico não tem condições de apreciar as riquezas mais escondidas da Bíblia! Não está impossibilitado de viver plenamente o evangelho, não será por isso um crente de segunda categoria, mas perde em muita coisa na compreensão do que a Bíblia tem para nos ensinar.

Qual seria a sua perda se você não soubesse ler? A mínima deficiência na leitura pode causar prejuízos irreparáveis. Vale lembrar-se daquele homem casado que considerou ter um caso com a mulher de um membro de sua igreja porque leu incorretamente na Bíblia uma ordem para adulterar. Se a deficiência na leitura do texto em sua língua causa perda de compreensão com implicações em sua “vida com Deus”, por que julgar quem se esmera para ler bem a Bíblia em sua própria língua? Ou nas línguas originais? Por que isso faz alguém ser menos santo, ou ter menos “vida com Deus”? Se minha dedicação resulta em melhor compreensão do que Deus espera de mim, minha “vida com Deus” está mais próxima possível de Seus preceitos revelados na Palavra. Portanto, o pensamento deveria ser o contrário do que comumente nos deparamos nas igrejas: Viver é melhor do que conhecer a Bíblia...

Eu não teria dificuldade algum em concordar com essa proposta do “viver é melhor do que conhecer” se essa proposta não fosse impossível e contrária ao ensinamento bíblico! Se é impossível conhecer a Deus sem que Ele se revele ao homem, como eu poderia “ter vida com Deus” sem antes conhecê-lO bem pela leitura e estudo do que Ele revelou? Como poderia obedecer a um mandamento sem antes conhecer e entender o que o mandamento exige de mim?

Os deuses eram difíceis de agradar. Saber como aplacar a ira dos deuses era um desafio, quem poderia saber o que os deuses queriam? O grande louvor de todo Israel pela Lei estava baseada nesta graça de ter a Lei do SENHOR escrita para ser estudada e conhecida. Conhecer exatamente o que Deus esperava de cada um dos seus era uma dádiva! Saber como levar uma vida justa diante de Deus não tem preço!

A lei do SENHOR é perfeita e nos dá novas forças. Os seus conselhos merecem confiança e dão sabedoria às pessoas simples. Os ensinos do SENHOR são certos e alegram o coração. Os seus ensinamentos são claros e iluminam a nossa mente. O temor ao SENHOR é bom e dura para sempre. Os seus julgamentos são justos e sempre se baseiam na verdade. Os seus ensinos são mais preciosos do que o ouro, até mesmo do que muito ouro fino. São mais doces do que o mel, mais doces até do que o mel mais puro. Senhor, os teus ensinamentos dão sabedoria a mim, teu servo, e eu sou recompensado quando lhes obedeço. Salmo 19:7-11

Que valor haveria na Lei se ela não fosse clara e compreensível? Como seria possível obedecer a Lei e fazer a vontade de Deus sem entender o que Ele revelou? Como posso “ter vida com Deus” sem conhecer e entender os Seus preceitos? Como pode ser melhor viver aquilo que não conheço e não entendo? Cristo não criticou a falha dos saduceus em não conhecer as Sagradas Escrituras? Você acha que esse “conhecer” era um “decorar”, ou apenas “ler”, ou “entender”?
Mas, André, o testemunho bíblico é que os seus leitores apenas meditavam e guardavam a Palavra em seus corações, e isso basta. Bem, meu irmão, bastava para eles! A Bíblia foi escrita na língua deles, na época deles, na cultura deles.

Hoje, precisamos nos esforçar um pouco mais para compreender o que tudo isso significava no contexto deles para não abrir a boca e falar besteira, ensinar errado e ainda correr o risco de não só errar o caminho na sua caminha de “vida com Deus”, mas também arrastar alguns com você!

Autor: André R. Fonseca
www.andrerfonseca.com
Twitter: @andreRfonseca
Fonte da imagem: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Law-books.jpg
Fonte: [ Teologia et cetera ] 
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