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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
As greves, o Mensalão e o Facebook
Por: José Aparecido dos Santos (Cido)
A
era da informação nos permite saber de quase tudo o que acontece no mundo com
uma velocidade sem precedentes na história humana. Tudo isto através do que lemos
e vemos nas redes sociais, blogs, jornais, revistas, tv, mensagens de celular, e
até do que ouvimos sem querer, ou querendo
- como acontece na maioria das vezes –, das conversas dos outros nos trens e
ônibus. Por outro lado, este sem número de informações também produz confusão,
quando não apatia nas pessoas diante de tantas novas. Especificamente sobre o
cenário político, são tantos escândalos e denúncias que o cidadão reage, de
forma confusa em seus sentimentos e opiniões, não conseguindo, na maioria das
vezes, estabelecer qualquer relação com seu cotidiano. Éassustador, mas convenhamos,
quem vai conseguir pensar que tenha algo a ver o voto de um Ministro do Supremo
Tribunal Federal, que faz as vezes de advogado de defesa de um réu acusado de
inúmeros crimes contra o patrimônio público, com o angustiante atraso em
liberar o corpo de um ente querido seu, por parte dos funcionários do IML que
estão em greve.
No
dia 2 de agosto teve início no STF o julgamento de uma série de pessoas
acusadas de fazerem parte de um enorme Esquema de compra de votos de
parlamentares durante
o governo Lula. O ministro Ricardo Lewandowski votou pela absolvição de João
Paulo Cunha, ex-deputado (PT SP), candidato a prefeito nas eleições municipais
em Osasco. Lewandowski foi indicado pelo ex-presidente Lula. Além de não ser
grande surpresa tal posição, ainda teremos votos de outros ministros
intimamente ligados ao Partido dos Trabalhadores, entre eles Dias Toffoli que
já foi advogado do partido e diretamente ligado a José Dirceu, acusado de ser o
mentor do esquema. Mas o que teria a ver a onda de greve deflagada em vários
setores, o corpo preso no IML, o voto do ministro e meu perfil no Facebook? Muito,
muito mesmo.
Um
dia após o voto o ministro declarou: “Eu acho que o juiz não deve ter medo das
críticas”, referindo –se às críticas de alguns setores da imprensa mas,
principalmente, à enxurrada de manifestações que se deram através da internet.
Isto demonstra que muita gente está prestando atenção no que está acontecendo.
Que muitos conseguem processar estas informações e se manifestam repudiando e
questionado a posição de determinadas autoridades. Situação pouco comum, até
então. É justamente aí que entram em cena os assessores de palco, responsáveis
por direcionar os holofotes em um outro sentido.
Não
é novidade para ninguém que as lideranças sindicais estão ligadas ao Partido
dos Trabalhadores. Foram inúmeros os movimentos grevistas no último mês, em
vários setores, gerando um verdadeiro caos à medida em que o momento mais
crítico do julgamento vai se aproximando. Aeroportos, Anvisa, polícia civil, servidores,
professores e tantos quantos forem necessários para que a atenção do cidadão se
volte, se não para as novas notícias, para os problemas que lhe afetam
diretamente. No final, novamente quem paga as contas é o cidadão. Nos sentimos impotentes quando
em 2006 o crime organizado parou São Paulo em ataques contra a PM, em
retaliação à decisão do governo do estado de desmoronar a articulação da facção
criminosa colocando seus líderes em presídios de segurança máxima. Novamente
nos encontramos em uma situação muito parecida, em que supostos líderes de um
dos maiores esquemas de currupção já denunciado na história do nosso país,
correm o risco de serem punidos, um pequeno risco, diga-se de passagem, se
considerarmos o retrospecto de tais julgamentos em nosso país e, principalmente
o compromentimento político e ideológico daqueles que os julgam. Nos vemos
novamente reféns de outro movimento criminoso, que estabelece o caos, não mais
em um estado, mas em todo o país. Exercendo pressão sobre as autoridades,
tentando influenciar no julgamento, a despeito das reivindicações dos
trabalhadores, que se tornam meras moedas de troca nas mesas de negociação.
Em uma investigação criminosa considera-se o modus operandi, ou seja, a forma de agir
do criminoso ou do grupo, para que se possa estabelecer sua relação com outros
possíveis crimes. Penso que isto não deveria ser descartado, tamanha a
semelhança na forma de agir dos dois grupos acima citados. Estabelece-se o caos
e o terror sobre a população na tentativa de determinar as decisões das
autoridades no que diz respeito ao julgamento e tratamento dados aos seus
líderes.
terça-feira, 21 de agosto de 2012
Não quero mais ser Evangélico
Postado por
Equipe Consciência e Fé
Mais um desabafo de alguém que ama a pureza e simplicidade do evangelho, e que por isso cansou de todo esse universo em-vão-gélico. Narrado por Ed René Kivitz. Escute e tire suas próprias conclusões.
(Texto escrito)
Ser
evangélico, pelo menos no Brasil, não significa mais ser praticante e
pregador do Evangelho (Boas Novas) de Jesus Cristo, mas, a condição de
membro de um segmento do Cristianismo, com cada vez menor relacionamento
histórico com a Reforma Protestante - o segmento mais complicado,
controverso, dividido e contraditório do Cristianismo. O significado de
ser pastor evangélico, então, é melhor nem falar, para não incorrer no
risco de ser grosseiro.
Não
quero mais ser evangélico! Quero voltar para Jesus Cristo, para a boa
notícia que Ele é e ensinou. Voltemos a ser adoradores do Pai porque,
segundo Jesus, são estes os que o Pai procura e, não, por mão de obra
especializada ou por 'profissionais da fé'. Voltemos à consciência de
que o Caminho, a Verdade e a Vida é uma Pessoa e não um corpo de
doutrinas e/ou tradições, nascidas da tentativa de dissecarmos Deus; de
que, estar no caminho, conhecer a verdade e desfrutar a vida é
relacionar-se intensamente com essa Pessoa: Jesus de Nazaré, o Cristo, o
Filho do Deus vivo. Quero os dogmas que nascem desse encontro: uma
leitura bíblica que nos faça ver Jesus Cristo e não uma leitura
bibliólatra. Não quero a espiritualidade que se sustenta em prodígios,
no mínimo discutíveis, e sim, a que se manifesta no caráter.
Chega dessa 'diabose'! Voltemos à graça, à centralidade da cruz, onde tudo foi consumado. Voltemos à consciência de que fomos achados por Ele, que começou em cada filho Seu algo que vai completar: voltemos às orações e jejuns, não como fruto de obrigação ou moeda de troca, mas, como namoro apaixonado com o Ser amado da alma resgatada.
Voltemos ao amor, à convicção de que ser cristão é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos: voltemos aos irmãos, não como membros de um sindicato, de um clube, ou de uma sociedade anônima, mas, como membros do corpo de Cristo. Quero relacionar-me com eles como as crianças relacionam-se com os que as alimentam - em profundo amor e senso de dependência: quero voltar a ser guardião de meu irmão e não seu juiz. Voltemos ao amor que agasalha no frio, assiste na dor, dessedenta na sede, alimenta na fome, que reparte, que não usa o pronome 'meu', mas, o pronome 'nosso'.
Para que os títulos: 'pastor', 'reverendo', 'bispo', 'apóstolo', o que eles significam, se todos são sacerdotes? Quero voltar a ser leigo! Para que o clericalismo? Voltemos, ao sermos servos uns dos outros aos dons do corpo que correm soltos e dão o tom litúrgico da reunião dos santos; ao, 'onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu lá estarei' de Mateus 18.20. Que o culto seja do povo e não dos dirigentes - chega de show! Voltemos aos presbíteros e diáconos, não como títulos, mas, como função: os que, sob unção da igreja local, cuidam da ministração da Palavra, da vida de oração da comunidade e para que ninguém tenha necessidade, seja material, espiritual ou social. Chega de ministérios megalômanos onde o povo de Deus é mão de obra ou massa de manobra!
Para que os templos, o institucionalismo, o denominacionalismo? Voltemos às catacumbas, à igreja local. Por que o pulpitocentrismo? Voltemos ao 'instruí-vos uns aos outros' (Cl 3. 16).
Por que a pressão pelo crescimento? Jesus Cristo não nos ordenou a sermos uma Igreja que cresce, mas, uma Igreja que aparece: 'Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. '(Mt 5.16). Vamos anunciar com nossa vida, serviço e palavras 'todo o Evangelho ao homem... a todos os homens'. Deixemos o crescimento para o Espírito Santo que 'acrescenta dia a dia os que haverão de ser salvos', sem adulterar a mensagem.
Chega dessa 'diabose'! Voltemos à graça, à centralidade da cruz, onde tudo foi consumado. Voltemos à consciência de que fomos achados por Ele, que começou em cada filho Seu algo que vai completar: voltemos às orações e jejuns, não como fruto de obrigação ou moeda de troca, mas, como namoro apaixonado com o Ser amado da alma resgatada.
Voltemos ao amor, à convicção de que ser cristão é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos: voltemos aos irmãos, não como membros de um sindicato, de um clube, ou de uma sociedade anônima, mas, como membros do corpo de Cristo. Quero relacionar-me com eles como as crianças relacionam-se com os que as alimentam - em profundo amor e senso de dependência: quero voltar a ser guardião de meu irmão e não seu juiz. Voltemos ao amor que agasalha no frio, assiste na dor, dessedenta na sede, alimenta na fome, que reparte, que não usa o pronome 'meu', mas, o pronome 'nosso'.
Para que os títulos: 'pastor', 'reverendo', 'bispo', 'apóstolo', o que eles significam, se todos são sacerdotes? Quero voltar a ser leigo! Para que o clericalismo? Voltemos, ao sermos servos uns dos outros aos dons do corpo que correm soltos e dão o tom litúrgico da reunião dos santos; ao, 'onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu lá estarei' de Mateus 18.20. Que o culto seja do povo e não dos dirigentes - chega de show! Voltemos aos presbíteros e diáconos, não como títulos, mas, como função: os que, sob unção da igreja local, cuidam da ministração da Palavra, da vida de oração da comunidade e para que ninguém tenha necessidade, seja material, espiritual ou social. Chega de ministérios megalômanos onde o povo de Deus é mão de obra ou massa de manobra!
Para que os templos, o institucionalismo, o denominacionalismo? Voltemos às catacumbas, à igreja local. Por que o pulpitocentrismo? Voltemos ao 'instruí-vos uns aos outros' (Cl 3. 16).
Por que a pressão pelo crescimento? Jesus Cristo não nos ordenou a sermos uma Igreja que cresce, mas, uma Igreja que aparece: 'Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. '(Mt 5.16). Vamos anunciar com nossa vida, serviço e palavras 'todo o Evangelho ao homem... a todos os homens'. Deixemos o crescimento para o Espírito Santo que 'acrescenta dia a dia os que haverão de ser salvos', sem adulterar a mensagem.
Fonte: Publicado em 23 de junho de 2003 no site da Rede Sepal, de autoria do Pastor Ariovaldo Ramos.
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
A PRÁTICA DO JEJUM - PARTE 2
TEXTO (MATEUS 6.16-18)
16. Quando jejuardes, não vos mostreis
contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer
aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.
17. Tu, porém, quando jejuardes,
unge a cabeça e lava o rosto, 18.
com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em
secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.
·
·
ELUCIDAÇÃO
Irmãos, o nosso trecho está
inserido dentro de um contexto maior, que tem início no versículo primeiro de
Mateus 6: “Guardai-vos de exercer a vossa
justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte,
não tereis galardão junto de vosso Pai celeste”. De acordo com Jesus, não
podemos transformar a nossa piedade em um espetáculo para o deleite das outras
pessoas. Não podemos exercer nossa piedade visando receber elogios dos homens em
vez de Deus.[20]
As palavras de Jesus sobre
o jejum aparecem como o terceiro exemplo da discrição exigida em nossa devoção
pessoal. As pessoas dão muita atenção à questão da caridade e da oração, mas
frequentemente negligenciam a questão do jejum. John Stott afirma que, “alguns
de nós vivemos nossa vida cristã como se estes versículos tivessem sido
arrancados de nossas Bíblias”.[21]
Mas, Jesus apresenta três áreas nas quais os escribas e os fariseus tropeçavam:
1) como se deve dar esmolas (vv. 2-4); 2) como se deve orar (vv. 5-14); e 3)
como se deve jejuar (vv. 16-18). Os fariseus davam esmolas tocando trombetas
diante de si, propagandeando o quanto se importavam com os menos favorecidos,
para que as pessoas observassem e pensassem sobre o quanto eles eram
misericordiosos. Eles também oravam de pé nos cantos das praças e das sinagogas
para serem vistos pelas demais pessoas como homens de orações. Ademais, eles, ao
jejuarem, propositadamente desfiguravam os seus rostos para que todos vissem e
percebessem que eles estavam jejuando. Ele adverte que Deus “odeia orgulho e
ostentação na religião”.[22]
As três áreas apontadas por
Jesus meus irmãos, representam três áreas ou três aspectos da nossa vida
espiritual.[23]
A primeira, é a da nossa relação com o nosso próximo, ou o bem que fazemos ao
próximo. A segunda, a da oração, aponta para a nossa relação com Deus, ou o que
fazemos com Deus. Por fim, a terceira, é a da disciplina pessoal na vida
espiritual do indivíduo, ou seja, o que fazemos com nós mesmos.
Então, visto que o nosso
Senhor achou importante falar sobre o jejum para os seus discípulos amados, é
importante também que tiremos um pouco do nosso tempo para estudarmos esse
assunto tão importante e tão esquecido em nossos dias. Contudo, antes de
observarmos detalhadamente o ensino de Jesus em Mateus 6.16-18, precisamos
compreender o jejum a partir do todo da revelação bíblica. Antes do “como”
jejuar, vem o que é o jejum.
·
III – O ENSINO NEGATIVO DE
JESUS SOBRE O JEJUM – COMO NÃO PRATICÁ-LO (v. 16)
“Quando jejuardes, não vos mostreis
contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer
aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a
recompensa”.
Notem o que Jesus afirma
logo no início do versículo 16: “Quando
jejuardes...”. Jesus aqui assume que os seus discípulos jejuariam. Percebam
que, Jesus não diz “se jejuardes”. Ele também não diz “vocês precisam jejuar”.
Aqui Jesus “assumiu que jejum era uma coisa boa e que seria praticada pelos seus
discípulos”.[37]
Jesus tem o propósito, não de proibir o jejum, mas sim o de ensinar o modo
correto de fazê-lo. Jesus mostra que há uma forma de fazer o jejum, e, ainda
assim, não agradar a Deus.
Jesus continua dizendo: “não vos mostreis contristados como os
hipócritas”. Aqui está a exortação acerca do que não fazer: imitar os
hipócritas. O que os hipócritas faziam? Eles se mostravam contristados. Eles
faziam questão de mostrar que estavam jejuando. “Hipócritas são as pessoas que
praticam as disciplinas espirituais para serem vistos pelos homens”.[38]
Essa é a recompensa que os hipócritas desejam: o reconhecimento, o louvor dos
homens. Os fariseus, os líderes religiosos de Israel estavam infectados com esse
desejo de reconhecimento. No versículo 1, Jesus afirmou que o “fim”, ou seja, o
objetivo dos fariseus era o de serem vistos pelos homens! Jesus proferiu uma
solene advertência contra os escribas: “Guardai-vos dos escribas, que gostam de
andar com vestes talares e das saudações nas praças; e das primeiras cadeiras
nas sinagogas e dos primeiros lugares nos banquetes; os quais devoram as casas
das viúvas e, para o justificar, fazem longas orações; estes sofrerão juízo
muito mais severo” (Marcos 12.38-40). Meus irmãos, quão intenso é o gosto
pelo elogio dos homens! Nós, muitas vezes, nos aprontamos para isso “com vestes
talares”, e nos exibimos, assumimos uma pose importante na igreja, desejando
ocupar cargos e mais cargos com o fim de sermos vistos pelos homens, e até mesmo
encompridamos nossas orações para apenas parecer que somos piedosos. Tudo isso
nós somos propensos a fazer por causa do nosso apetite aparentemente insaciável
pelos elogios dos homens!
A hipocrisia, segundo
Jesus, estava em se mostrar contristado de forma proposital. Os fariseus
desfiguravam os seus rostos, para parecer que jejuavam. Tudo era apenas
fingimento! O verbo usado para “desfiguram” (avfani,zw), dá a ideia de
que eles estavam bem, estavam fortes, mas ativamente fingiam que estavam fracos
e abatidos por causa da falta de alimento. Irmãos, a falta de alimento por si só
já é capaz de desfigurar o rosto. Acontece que nos dias em que eles jejuavam, os
fariseus nem sequer lavavam o rosto nem ungiam a cabeça com óleo perfumado. Eles
faziam questão de demonstrar que estavam jejuando. “Nestes dias, eles apareciam
nas ruas, ao passo que deveriam permanecer em seus aposentos; e demonstravam uma
aparência abatida, um semblante melancólico, um passo lento e solene”.[39]
O objetivo deles era que as pessoas os vissem e os admirassem.
Jesus os chama de
hipócritas porque eles apenas aparentavam estar jejuando por causa da verdadeira
piedade. Apenas exteriormente eles jejuavam por amor a Deus, por desejo de
comunhão com Ele, por mortificação do pecado. Eles só jejuavam para serem
admirados. Por isso eles eram hipócritas!
Por fim, Jesus afirma que
os hipócritas “já receberam a
recompensa”. Que recompensa? A que tanto desejavam: o aplauso dos homens, os
holofotes da fama eclesiástica! A hipocrisia é extremamente eficaz! Se a única
coisa que você deseja é a admiração das pessoas, fique sabendo que você a
conseguirá. No entanto, é a única coisa que você vai receber. Aqueles que
desejam apenas o aplauso dos homens não farão parte do Reino de
Deus!
IV – O ENSINO POSITIVO DE
JESUS SOBRE O JEJUM – COMO PRATICÁ-LO (vv. 17,18)
“Tu, porém, quando jejuardes, unge a cabeça
e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu
Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará”.
Jesus começa com a
afirmação de que os seus discípulos não devem viver de uma forma hipócrita: “Tu, porém...”. Devemos agir
diferentemente dos fariseus e de pessoas que jejuam para parecerem mais
espirituais. O ponto delineado por Jesus aqui, é que quando jejuarmos devemos
evitar todo e qualquer tipo de propaganda hipócrita no que concerne ao nosso
jejum. Devemos mantê-lo em oculto.
Jesus ordena: “unge a cabeça e lava o rosto”. Isso tem
um propósito muito simples: a discrição. No jejum devemos afligir a nossa alma e
não o nosso corpo. É certo que o corpo também sofre com o jejum, mas como diz o
puritano Matthew Henry, “deixe o corpo sofrer, mas não deixe transparecer”.[40]
Devemos nos preocupar com o nosso interior e não com o nosso exterior. Devemos
cuidar para que a nossa aparência seja comum, a mesma dos dias em que não
estamos jejuando.
O nosso jejum deve ser
apenas para Deus, não para os homens. O erro mais grave nisso tudo é a
preocupação com a opinião das outras pessoas. Muitas vezes tememos tanto parecer
insignificantes aos olhos das outras pessoas, que nem sequer pensamos no que
Deus pensa a nosso respeito e exige de nó. A tua preocupação quando jejuar deve
ser se está agradando a Deus ou não; se Deus está satisfeito com a sua devoção
ou não; se a maneira como você está jejuando é aceitável diante de Deus ou não.
“Que a nossa preocupação seja somente com Deus e sobre como podemos agradá-Lo em
tudo”.[41]
No versículo 18, Jesus
conclui: “e teu Pai, que vê em secreto,
te recompensará”. Isso só confirma que o jejum deve ter a clara intenção de
ser visto por Deus. Então, quando jejuar, “faça-o na direção de Deus, que vê
quando outros não o veem”.[42]
John Stott faz uma afirmação maravilhosa sobre Deus estar nos observando em
secreto: “Como Jesus observava as pessoas que colocavam suas ofertas no tesouro
do templo, assim Deus nos observa quando ofertamos; quando oramos e jejuamos em
secreto, ele está ali, no lugar secreto”.[43]
Jesus está testando a
realidade de Deus em nossas vidas. Será que nós realmente temos uma fome por
Deus mesmo, ou uma fome por admiração humana? Jesus promete que nosso Pai, que
vê em secreto, recompensará o jejum feito da maneira que o agrada. Devemos estar
atentos ao fato, irmãos, de que, não devemos jejuar buscando alguma
recompensa.[44]
Nosso intento deve ser o de agradar a Deus, expressar o nosso amor, o nosso
desejo e a nossa fome pelo Senhor, o nosso desejo por coisas espirituais mais
elevadas do que os banquetes que desfrutamos no cotidiano. Devemos jejuar
buscando demonstrar ao nosso Noivo que desejamos o seu retorno. O que acontece é
que a bondade do nosso Pai, que nos vê em secreto é tamanha, que ele,
bondosamente nos recompensa por termos almejado apenas a ele.
Igualmente, não devemos
imaginar que a recompensa que o Pai nos dará é algum tipo de poder celestial,
místico, ou alguma bênção material. Como afirmado no início, o jejum não é uma
“varinha de condão”, algo mágico para atender nossos caprichos. A recompensa que
Deus tem em mente, antes de qualquer coisa, é ele mesmo! Nós apreendemos isso da
oração do Pai Nosso. Ali Jesus nos diz que os nossos maiores anseios devem ser:
1) que o nome de Deus seja santificado ou honrado; 2) que o Reino de Deus venha;
e 3) que a sua vontade seja feita na terra como é feita no céu. Desse modo,
devemos jejuar movidos pelo anseio “de que o nome de Deus seja conhecido,
estimado e honrado, movidos pelo anseio de que seu reino seja estendido e depois
consumado na história, movidos pelo anseio de que sua vontade seja feita em
todas as partes com a mesma devoção e energia que os anjos infatigáveis fazem
sem cessar no céu para todo o sempre”.[45]
A recompensa maior do jejum
praticado pelo cristão será “um banquete eterno”.[46]
Assim como a recompensa dos hipócritas será dada apenas terra, a recompensa dos
verdadeiros discípulos de Jesus receberão uma maravilhosa recompensa no céu.[47]
V – AS CONFISSÕES
REFORMADAS E O JEJUM
Já vimos anteriormente o
ensinamento da Confissão de Fé de
Westminster a respeito do jejum comunitário como estando ligado a assuntos
de grande importância, como por exemplo, a escolha de nossos líderes. Creio que
seja útil observarmos novamente o ensino confessional:
A leitura das Escrituras, com santo e piedoso temor; a
sã pregação e o consciencioso ouvir da Palavra, em obediência a Deus, com
entendimento, fé e reverência; o cântico de salmos com graça no coração; e bem
assim a devida administração e o digno recebimento dos sacramentos instituídos
por Cristo – são todos partes do culto religioso ordinário oferecido a Deus,
além dos juramentos e votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões
especiais, que devem, em seus diversos tempos e estações, ser usados de uma
forma santa e religiosa.[48]
Além da Confissão de Westminster, a Segunda Confissão Helvética (1566), no
Capítulo XXIV.4 diz o seguinte a respeito do jejum:
Ora, quanto mais seriamente a igreja de Cristo condena a
gula, a embriaguez e toda a espécie de lascívia e intemperança, tanto mais e com
insistência, recomenda-nos o jejum cristão. Pois, jejuar nada mais é do que a
abstinência e a moderação dos piedosos e uma disciplina, um cuidado e castigo da
nossa carne, exercitados segundo a necessidade do momento, pelos quais nos
humilhamos diante de Deus, privando a nossa carne do seu alimento, de modo que
ela possa de modo mais espontâneo e fácil obedecer ao Espírito. Portanto,
aqueles que não dão atenção a essas coisas não jejuam, mas imaginam que o fazem
se abarrotam o estômago uma vez por dia e a certa hora ou em horário prescrito
abstêm-se de certos alimentos, pensando que, pelo fato de terem praticado essa
obra agradam a Deus e estão fazendo algo de bom. O jejum vem a ser um auxílio
para as orações dos santos e para todas as virtudes. Porém, como se vê nos
livros dos profetas, o jejum dos judeus, que se abstinham de alimento, não porém
da iniquidade, não agradava a Deus.[49]
Percebam, irmãos, jejuar,
de acordo com esta confissão, “é privar algo ao corpo com o objetivo de servir
ao Espírito”.[50]
O jejum cristão se apresenta como oposição a uma vida dissoluta marcada por
excessos, como a embriaguez e a glutonaria. Depois de apresentar a definição do
jejum cristão, a Confissão Helvética
faz uma distinção entre o jejum privado e o público:
Há jejum público e pessoal. Nos tempos antigos
celebravam-se jejuns públicos, em tempos de calamidade ou em situações difíceis
da igreja. Com a total abstinência de alimento até o anoitecer, todo o tempo era
dedicado às santas orações, ao culto a Deus e ao arrependimento. Eles diferiam
pouco do luto, havendo frequente menção do mesmo nos profetas, especialmente no
segundo capítulo de Joel. Esse tipo de jejum deve ser observado ainda hoje,
sempre que a igreja se encontre em situação difícil. Os jejuns particulares
podem ser praticados por qualquer um de nós, quando se sente afastado do
Espírito. Pois, dessa maneira, priva-se a carne do que a alimenta e fortifica.[51]
Por fim, irmãos, quero
apenas citar a passagem da confissão que diz como se dá o verdadeiro jejum
cristão:
Todo jejum deve partir de um espírito livre, espontâneo
e realmente humilde, e não simulado, só para conquistar o aplauso ou favor dos
homens, e muito menos para que por meio dele pretenda o homem ser merecedor de
justiça. Porém, que cada um jejue para esse fim, que ele prive a carne do que a
alimentaria, para que possa servir a Deus de modo mais fervoroso.[52]
Creio que também seja
pertinente mencionar, amados irmãos, que o nosso Catecismo Maior de Westminster, outro
dos nossos símbolos de fé, na exposição do Segundo Mandamento afirma que, dentre
os deveres exigidos no mandamento se encontra o “jejum religioso”.[53]
Comentando esta resposta do Catecismo, o Pr. Johannes Geerhardus Vos
afirma que, “o jejum religioso [...] [é] para uso ocasional, isto é não deve ser
realizado a intervalos de tempo definidos e regulares, mas quando alguma ocasião
especial exigir”.[54]
·
CONCLUSÃO
Gostaria de concluir o
nosso estudo a respeito do jejum, meus amados e queridos irmãos, extraindo
algumas lições práticas acerca do jejum cristão.
Em primeiro lugar, jamais
esqueçamos que o jejum é nada mais nada menos do que um coração faminto por
Deus. Quando jejuamos estamos expressando a saudade existente em nossos corações
do nosso Noivo celestial; estamos demonstrando o nosso intenso e real desejo da
sua volta. Porém, quando desprezamos o jejum, acabamos, sem querer, dando a
entender que não sentimos falta dele e que não ansiamos por sua volta. Não
podemos esperar que o mundo deseje a Cristo se nós, que somos o seu povo, não
demonstramos nenhum interesse por ele.
Em segundo lugar, tenhamos
cuidado para não cairmos nos erros dos escribas fariseus, os quais foram
chamados de hipócritas. Não devemos jejuar externamente como tendo fome por
Deus, mas internamente tendo fome pelos aplausos dos homens. Não é pecado ser
visto jejuando. Pecado é jejuar para ser visto. Também tenhamos cuidado para não
jejuarmos para conseguir algo pessoal, algum prazer material. Não façamos do
jejum um dispositivo para manipularmos a Deus.
Em terceiro lugar, queridos
irmãos, tenhamos a consciência de que, Deus não recompensa o jejum pelo jejum em
si: “Deus recompensa o jejum porque o jejum expressa o clamor do coração de que
nada na terra pode satisfazer a nossa alma além de Deus. deus deve recompensar
esse clamor porque ele é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos
nele”[55],
afirmou John Piper.
Quarto, quando instituirmos
dias de jejum e oração públicos, lembremos a grandeza dos nossos pecados e a
nossa miséria, lembrando-nos da necessidade de verdadeiro arrependimento e de
buscar ao Senhor.[56]
Quinto, quando instituirmos
dias de jejum e oração, apresentemos ao Senhor, de forma pública e coletiva, as
necessidades de nossa igreja. Dediquemo-nos à oração pelo bem espiritual da
igreja e pelo que acontece fora dela. Em relação ao bem espiritual, supliquemos
pelas necessidades particulares da igreja, pelos instáveis em nosso meio, pelos
casados, por nossas crianças, adolescentes e jovens, por uma vida piedosa,
devemos suplicar para que a pregação venha sobre nós com poder. Externamente
precisamos suplicar por paixão ao testemunhar de Cristo, que o evangelho produza
muito fruto por meio de nós, e que vejamos nossa igreja crescendo ano após
ano.[57]
Que o Senhor nos
abençoe!
Rev. Alan Rennê Alexandrino
Lima
[20] Gordon Lyons, Expository Notes
Excerpt The Sermon on the Mount: The Gospel of Matthew Chapters 5-7, (2008),
70. Minha tradução. Extraído do site http://www.1-word.com.
[21] John Stott, Contracultura Cristã: A Mensagem do Sermão
do Monte, (São Paulo: ABU, 1981), 63. Edição eletrônica.
[22]
Gordon Lyons, Expository Notes
Excerpt The Sermon on the Mount: The Gospel of Matthew Chapters
5-7, 47.
[23]
D. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão
do Monte, 321.
[37]
John Piper, Fome por Deus,
77.
[38]
Ibid, 78.
[39] Matthew Henry, Comentário Bíblico Novo Testamento: Mateus a
João, (Rio de Janeiro: CPAD, 2008), 70.
[40] Ibid.
[41]
D. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão
do Monte, 330.
[42]
John
Piper, Fome por Deus,
82.
[43]
John Stott, Contracultura Cristã: A
Mensagem do Sermão do Monte, 66.
[44]
Discordo da posição assumida por John Piper, quando ele afirma que “é bom e
correto querer e buscar a recompensa de Deus no jejum. Jesus não no-la
ofereceria se fosse inadequado almejá-la”. Cf. John Piper, Fome por Deus, 84.
[45]
John Piper, Fome por Deus,
87.
[47]
Gordon Lyons, Expository Notes
Excerpt The Sermon on the Mount: The Gospel of Matthew Chapters 5-7,
56.
[48] A. A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.
A. Hodge, (São Paulo: Os Puritanos, 1999), 377.
[49]
Joel R. Beeke e Sinclair B. Ferguson (Orgs.). Harmonia das Confissões Reformadas. São
Paulo: Cultura Cristã, 2006. pp. 171-172.
[50]
Daniel R. Hyde. Dias de Jejum e Oração na
Tradição Reformada. São Paulo: Os Puritanos, 2012. p. 3.
[51]
Joel R. Beeke e Sinclair B. Ferguson (Orgs.). Harmonia das Confissões Reformadas. p.
172.
[52]
Ibid.
[53]
O CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER. Pergunta 108. In: Símbolos de Fé. São Paulo: Cultura
Cristã, 2005. pp. 164-165.
[54]
Johannes Geerhardus Vos. Catecismo Maior
de Westminster Comentado. São Paulo: Os Puritanos, 2007. p.
336.
[55] John Piper, Fome por Deus, 193.
[56]
Daniel R. Hyde. Dias de Jejum e Oração na
Tradição Reformada. p. 8.
[57]
Ibid.
A PRÁTICA DO JEJUM - PARTE 1
Estudo ministrado
na Igreja Presbiteriana de Tucuruí, em 10 de Agosto de 2012
A conclusão à qual nós podemos chegar
é que, a Escritura promove sim a prática do jejum, tanto no Antigo quanto no
Novo Testamento. A grande pergunta à qual nos voltamos agora é a seguinte: COMO
JEJUAR? O que devemos fazer e o que devemos evitar na prática cristã do jejum?
Voltemos agora ao nosso texto inicial: Mateus 6.16-18.
·
TEXTO (MATEUS
6.16-18)
16. Quando jejuardes, não vos mostreis
contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer
aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.
17. Tu, porém, quando jejuardes,
unge a cabeça e lava o rosto, 18.
com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em
secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.
·
INTRODUÇÃO
Meus amados irmãos, quando
nos propomos a estudar um assunto como o jejum, devemos nos precaver contra
inúmeros mal-entendidos. Especificamente, existem dois extremos quanto ao jejum.
De um lado, estão aqueles que afirmam que o jejum é uma obrigação para o crente
em nossos dias. Afirma-se que, “crente que não jejua não é consagrado, não
recebe o batismo com o Espírito Santo” e outras coisas mais. Nessa fileira estão
os nossos irmãos pentecostais e carismáticos. Interessantemente, eles estão
aliados ao catolicismo romano, que enxerga o jejum como algo imprescindível e
obrigatório para o cristão. Por exemplo, no catolicismo, o jejum é algo ordenado
como possuindo várias funções: 1) como forma de preparação para a pessoa receber
a comunhão: “A fim de se prepararem convenientemente para receber esse
sacramento, os fiéis observarão o jejum prescrito em sua Igreja” (§1387)[i];
2) como forma do sacramento da penitência (§1434,1438)[ii];
e 3) como mandamento expresso, possuindo caráter obrigatório: “O quarto
mandamento (‘Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja’)
determina os tempos de ascese e penitência que nos preparam para as festas
litúrgicas; contribuem para nos fazer adquirir o domínio sobre nossos instintos
e a liberdade de coração” (§2043).[iii]
Eu creio que foi exatamente contra esse tipo de postura[iv]
que o apóstolo Paulo se pronunciou em 1 Timóteo 4.1-3: “Ora, o Espírito afirma expressamente que,
nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos
enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e
que têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento e exigem
abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de
graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a
verdade”.
Um agravante entre muitos
evangélicos, é que eles acabam tratando o jejum como uma espécie de “varinha de
condão”, uma espécie de poder mágico[v],
uma moeda de troca para barganhar com Deus favores pessoais. Por exemplo, uma
pessoa que jejua porque deseja receber uma promoção no emprego, passar em um
concurso ou em um vestibular. Muitos disfarçam o uso equivocado do jejum sob o
rótulo “resposta de oração”. A exortação é a seguinte: “Se você quer uma bênção,
então jejue!”. Meus irmãos, isso é perigoso, pois “no momento em que começarmos
a dizer: ‘Porquanto faço isto, obtenho aquilo’, isso significará que teremos
começado a controlar a bênção divina. Isso é um insulto a Deus, violando a
grande doutrina de Sua soberania final”.[vi]
Isso está errado, pois a pessoa acha que a eficácia está no jejum! “Quando
jejuamos, não devemos crer no jejum, e sim em Deus”.[vii]
Precisamos ter muita cautela com aqueles que dizem que o jejum é algo
obrigatório para o discípulo de Jesus Cristo ou que o tratam como um ritual
mágico.
O outro extremo fica por
conta da maioria dos protestantes que, negligenciam quase que inteiramente o
jejum. Existem algumas razões para tal negligência. Em reação ao catolicismo e
ao pentecostalismo, os protestantes acabam negligenciando a prática do jejum.
Pensam que, porque o jejum não é expressamente ordenado nas Sagradas Escrituras,
então, não se deve jejuar de forma alguma. Martyn Lloyd-Jones afirma que,
“tendemos a cair no extremo oposto, deixando inteiramente de lado o jejum, em
nossas considerações e em nossa prática diária”.[viii]
Outra razão para a atual negligência do jejum é o fato da grande indiferença que
as pessoas, mesmo os evangélicos têm para com Deus e os assuntos espirituais.
Porque as pessoas têm Deus como algo insignificante, como um acessório para suas
vidas, tudo aquilo que está associado a Ele, bem como com o cultivo de uma vida
piedosa perde a sua importância diante das pessoas. Um homem chamado Edward
Farrell afirmou o seguinte sobre isso: “Quase em toda parte e em todos os
tempos, o jejum sempre ocupou um lugar de grande destaque, visto que ele se
encontra estreitamente relacionado com o profundo senso religioso. Talvez isso
explique a negligência do jejum em nosso tempo. Quando o significado de Deus
diminui, o jejum desaparece”.[ix]
Um pastor chamado Richard Foster afirmou que em um período de quase cem anos nem
mesmo um único livro sobre jejum foi escrito.[x]
Há ainda uma terceira razão
para a atual negligência em relação ao jejum. A nossa superexposição à ideia de
que temos necessidade de várias refeições durante o dia. Foster fala sobre esse
problema:
A propaganda com a qual somos alimentados continuamente
convence-nos de que, se não tivermos três refeições fartas todos os dias, com
diversos petiscos nos intervalos, ficaremos à beira da inanição. Somando-se a
isso a crença popular de que é uma virtude satisfazer cada um dos apetites
humanos, o jejum tornou-se obsoleto.[xi]
Contrariamente a tudo isso,
queridos irmãos, a Bíblia apresenta o jejum como algo benéfico e também como
algo válido para os cristãos dos dias de hoje. Faríamos bem em examinar o que
ela ensina sobre essa disciplina maravilhosa. A Bíblia apresenta uma longa lista
de personagens que praticaram o jejum: Moisés, Davi, Elias, Ester, Daniel, a
profetisa Ana (Lucas 2.36,37), João Batista, Paulo, Jesus[xii]
e os cristãos da igreja primitiva. Igualmente, muitos dos cristãos notáveis da
história da Igreja jejuavam e davam testemunho de seu valor. Entre eles, estão
Agostinho, bispo de Hipona[xiii],
Martinho Lutero[xiv],
João Calvino[xv],
John Knox, John Wesley[xvi],
Jonathan Edwards[xvii],
David Brainerd[xviii],
Charles Spurgeon[xix]
e Ashbel Green Simonton.
·
EXPOSIÇÃO
I – DEFINIÇÃO DE
JEJUM
Muitas vezes, o jejum é
definido meramente como abstenção de comida, ou de comida e bebida, por um
período específico de tempo. “No jejum, nós nos abstemos de alimentos e, não
raro, também de líquidos”.[xxiv]
Richard Foster define o jejum como “abstenção de comida por motivos
espirituais”.[xxv]
Acontece que jejum não diz
respeito apenas a comida e a bebida. A questão não é o alimento em si. De acordo
com John Piper, “a questão engloba qualquer coisa e todas as coisas que poderiam
ser um substituto para Deus”.[xxvi]
Lloyd-Jones diz que o jejum “não deve confinar-se à questão de alimentos sólidos
e líquidos; pelo contrário, o jejum, na realidade, deveria incluir a abstinência
de qualquer coisa, legítima em si mesma, tendo-se em vista algum propósito
espiritual especial”.[xxvii]
Isso significa, meus amados irmãos, que mesmo coisas boas, muitas vezes podem
servir como obstáculo para o cultivo de uma intimidade maior com o Senhor; podem
acabar ocupando o lugar de Deus.
O jejum envolve também
abstenção programada de coisas como sexo entre pessoas casadas (1 Coríntios
7.5). Muitos comentaristas afirmam que a disposição de Abraão em sacrificar o
seu filho Isaque se configura como uma espécie de jejum, pois Abraão “preferiu a
Deus à vida de seu filho”.[xxviii]
Com isso em mente, podemos ter a convicção de que, jejum não é o confisco do
mal, mas sim o confisco daquilo que é bom, o confisco do bem.
O nosso foco está,
especificamente, no jejum como abstenção de comida e, em alguns casos, de
bebida, durante um determinado período. No entanto, extrairemos alguns
princípios úteis para toda e qualquer abstenção que desejarmos fazer por amor a
Deus.
II – O ENSINO BÍBLICO SOBRE
O JEJUM
2.1.
No Antigo Testamento
2.1.1. A Psicologia do
jejum
Algo interessante nas
páginas do Antigo Testamento é a psicologia do jejum, isto é, as emoções que o
acompanhavam. Por exemplo, alguns casos são apresentados em que o jejum foi
praticado não como expressão de adoração a Deus, mas motivado por sentimentos e
emoções violentas, como inveja, ira e aborrecimento: “E assim o fazia ele de ano em ano; e, todas
as vezes que Ana subia à Casa do SENHOR, a outra a irritava; pelo que chorava e
não comia” (1 Samuel 1.7); “Pelo que
Jônatas, todo encolerizado, se levantou da mesa e, neste segundo dia da Festa da
Lua Nova, não comeu pão, pois ficara muito sentido por causa de Davi, a quem seu
pai havia ultrajado” (1 Samuel 20.34); “Então, Acabe veio desgostoso e indignado
para sua casa, por causa da palavra que Nabote, o jezreelita, lhe falara, quando
disse: Não te darei a herança de meus pais. E deitou-se na sua cama, voltou o
rosto e não comeu pão” (1 Reis 21.4). No entanto, meus irmãos, esse tipo de
abstinência de comida não tem nada de religioso.
Frequentemente, o jejum
aparece nas Escrituras como uma expressão de aflição espiritual, como se a
pessoa que o pratica quisesse dizer á deidade: “‘Eu sou penitente; eu não sou
superior e poderoso. Você não precisa afligir-me mais’”.[xxix]
O sentimento do que jejua é como um apelo à piedade da deidade. Davi é
representativo aqui: “Respondeu ele:
Vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe se o SENHOR se
compadecerá de mim, e continuará viva a criança?” (2 Samuel
12.22).
2.1.2. As ocasiões e condições do
jejum
É preciso agora, queridos
irmãos, compreendermos as ocasiões em que o jejum era praticado no Antigo
Testamento. O jejum foi ordenado por Deus para ser praticado obrigatoriamente
uma vez por ano. Isso deveria ocorrer no Dia da Expiação: “Isso vos será por estatuto perpétuo: no
sétimo mês, aos dez dias do mês, afligireis a vossa alma e nenhuma obra fareis,
nem o natural nem o estrangeiro que peregrina entre vós. Porque, naquele dia, se
fará expiação por vós, para purificar-vos; e sereis purificados de todos os
vossos pecados perante o SENHOR” (Levítico 16.29,30; cf. 23.27-32; Números
29.7; Jeremias 36.6). Apesar nem o verbo nem o substantivo para jejum e
abstinência ocorram aqui, alguém “afligir a alma” significa abster-se de
alimento. Vejam como o salmista Davi disse que afligia a sua alma: “Quanto a mim, porém, estando eles enfermos,
as minhas vestes eram pano de saco; eu afligia a minha alma com jejum e em
oração me reclinava sobre o peito” (Salmo 35.13). Vejam também a pergunta
dos israelitas descrentes acerca do efeito do jejum praticado por eles: “Por que jejuamos nós, e tu não atentas para
isso? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta?” (Isaías
58.3a; cf. v. 5). Deve ser entendido que a pergunta deles não possuía a
humildade existente naqueles que desejam realmente aprender. Como afirma Raymond
C. Ortlund Jr., “era apenas uma forma de descarregar sua frustração com Deus.
Eles achavam que Deus estava sendo injusto”.[xxx]
De qualquer forma, percebam como “afligir a alma” sempre está relacionado com a
prática do jejum.
Aqui o jejum é praticado
como parte de uma grande contrição e tristeza por causa do pecado cometido
contra o Senhor. O grande problema é que essa prática deveria ser espontânea, e
não algo mecânico. Os judeus perverteram o propósito de Deus quanto ao jejum
praticado no Dia da Expiação. Os israelitas começaram a jejuar meramente para
conseguir obter o favor de Deus quanto a interesses pessoais: “... Eis que, no dia em que jejuais, cuidais
dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho. Eis
que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando
assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto” (Isaías 58.3b,4).
Por exemplo, na época de Jesus, os fariseus jejuavam duas vezes por semana
(segundas e quintas-feiras). E eles faziam isso mecanicamente. A sua intenção
era fazer mais do que a Lei mandava, para ver se conseguiam ter justiça própria
de sobra. Entretanto, Jesus contou uma parábola sobre dois homens: “Um disse:
‘eu jejuo duas vezes por semana’. O outro disse: ‘Ó Deus, sê propício a mim,
pecador’. Somente um desceu para sua casa justificado (Lucas 18.12-14)”.[xxxi]
Os fariseus jejuavam não para afligirem suas almas por causa dos seus pecados,
mas apenas para serem vistos pelos homens.
Nesse contexto de confissão
de pecados, o jejum deveria funcionar apenas como um sinal visível de uma
realidade invisível; um sinal exterior de algo que acontecia no interior do
jejuador. Isso fica claro no livro do profeta Joel: “Ainda assim, agora mesmo, diz o SENHOR:
Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns. Com choro e com
pranto. Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao
SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em
irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal” (Joel
2.12,13).
Extraordinariamente, o
jejum também era praticado em tempos de profunda aflição. Algumas vezes esse
jejum era público, outras vezes era privado. As ocasiões eram as seguintes: 1)
Guerra ou ameaça de guerra (Juízes 20.26; 1 Samuel 7.6); 2) Doenças (2 Samuel
12.16ss; Salmo 35.13); 3) Luto (1 Samuel 31.13; 2 Samuel 1.12); e 4) Perigo
iminente (Esdras 8.21; Ester 4.3,16).
Acrescenta-se a isso, o
fato de que, o jejum sempre era acompanhado de oração. Nunca ninguém jejuava sem
orar durante o período em que se abstinha dos alimentos.
2.2.
No Novo Testamento
2.2.1. A prática do jejum no Novo
Testamento
Quando voltamos os nossos
olhos para o que o Novo Testamento afirma sobre a prática do jejum, a única
diferença que podemos encontrar entre ele e o Antigo Testamento, é que no Novo
nós não encontramos nenhum mandamento específico para dias de jejum. Não existe
nenhuma promulgação de dias de jejum no Novo Testamento.
Isso quer dizer, então,
que, a partir do Novo Testamento o jejum deixa de ser algo válido? De maneira
nenhuma! O Novo Testamento toma o jejum como algo praticado sempre pelos
discípulos de Jesus Cristo. Nós podemos encontrar vários exemplos de pessoas
jejuando no Novo Testamento: 1) Jesus: “A
seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.
E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome” (Mateus
4.1,2); 2) Paulo[xxxii]
e Barnabé: “E, promovendo-lhes, em cada
igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao
Senhor em quem haviam crido” (Atos 14.23); 3) a Igreja reunida: “Havia na
igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger,
Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo
eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e
Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo
sobre eles as mãos, os despediram” (Atos 13.1-3); 4) a profetisa Ana: “...
Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e
orações”
(Lucas 2.37).
Contudo,
as palavras mais importante a respeito da continuidade do jejum para os dias
posteriores ao Novo Testamento, foram pronunciadas pelo próprio Senhor Jesus
Cristo, em Mateus 9.14,15: “Vieram,
depois, os discípulos de João e lhe perguntaram: Por que jejuamos nós, e os
fariseus muitas vezes, e teus discípulos não jejuam? Respondeu-lhes Jesus:
Podem, acaso, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo
está com eles? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo, e nesses
dias hão de jejuar”. Estas palavras de Jesus sobre o jejum são
extraordinárias. Elas deixam claro que o jejum é algo esperado dos discípulos de
Cristo nos dias de hoje, após a sua ascensão aos céus. Richard Foster afirma
que, “talvez essa seja a afirmação mais importante feita no Novo Testamento
sobre ser ou não o jejum um dever para os cristãos de hoje”.[xxxiii]
2.2.2. Os usos do jejum no Novo
Testamento
Na nova administração do
Pacto três usos do jejum recebem destaque: 1) para a piedade pessoal (Mateus
6.16-18); 2) para a eleição, ordenação e instalação da liderança da Igreja (Atos
14.23); e 3) para a ardente expectativa da volta de Cristo (Mateus
9.14,15).
Creio que este último seja
o ponto mais importante do ensino do jejum no Novo Testamento. John Piper define
o jejum como “uma expressão física do desejo ardente do coração pela volta de
Jesus [...] Jesus relaciona o jejum cristão com o nosso anelo pelo retorno do
Noivo”.[xxxiv]
A Igreja é como uma noiva que, ao sentir grandes saudades do seu noivo, deixa
até de comer, entregando-se, assim, à saudade e ao desejo. Esse deve ser o nosso
maior motivador para nos aplicarmos ao jejum privado. Jesus assume que o jejum
está intimamente relacionado com o desejo que os seus discípulos trazem em seu
coração acerca da sua volta. Então, nós temos um indexador do nosso desejo pelo
retorno do nosso Noivo. O jejum é uma constante em nossas vidas? Se sim, isso
significa que o nosso coração tem uma ardente saudade do nosso Noivo. Por outro
lado, se não damos o mínimo valor para a prática do jejum, isso, tristemente,
indica que o nosso coração não está abrasado de saudades do nosso Noivo, o
Senhor Jesus Cristo. Mais uma vez, a afirmação de John Piper chega a ser
dolorosa: “A quase universal ausência de jejum pela volta do Senhor é uma
testemunha de nossa satisfação com a presença do mundo e a ausência do Senhor.
Isso não deveria ser assim”.[xxxv]
O significado do jejum é um coração faminto por Deus!
A prática do jejum coletivo
na Igreja neotestamentária diz respeito a assuntos de grande importância, como a
escolha de sua liderança. Isso se depreende da passagem de Atos 14.23. É
necessário proclamar dias de jejum solene quando o futuro da Igreja estiver em
jogo. Jejuns públicos e coletivos não devem ser marcados sem nenhum propósito.
Nesse ponto, a Confissão de Fé de Westminster é clara:
A leitura das Escrituras, com santo e piedoso temor; a
sã pregação e o consciencioso ouvir da Palavra, em obediência a Deus, com
entendimento, fé e reverência; o cântico de salmos com graça no coração; e bem
assim a devida administração e o digno recebimento dos sacramentos instituídos
por Cristo – são todos partes do culto religioso ordinário oferecido a Deus,
além dos juramentos e votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões
especiais, que devem, em seus diversos tempos e estações, ser usados de uma
forma santa e religiosa.[xxxvi]
[i] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA: Edição revisada de acordo com o texto
oficial em Latim, (São Paulo: Loyola, 2002), 384.
[ii] Ibid, 395,396.
[iii]
Ibid, 537.
[iv]
Isso porque o erro combatido pelo apóstolo Paulo, em 1 Timóteo 4.3, era uma
forma embrionária de Gnosticismo, que adotava o dualismo persa. Tal forma de
gnosticismo é denominada por Hendriksen como “gnosticismo asceta”. Cf. William
Hendriksen, Comentário do Novo
Testamento: 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, (São Paulo: Cultura Cristã, 2001),
184. Calvino relaciona alguns grupos heréticos, como por exemplo, os encratistas, cujo nome é derivado do
grego “continência”, os tacianistas,
os cataristas, Montano e finalmente os maniqueus, “que sentiam extrema aversão
por carne como alimento e pelo matrimônio, e condenavam ambos como sendo
profanos”. Cf. João Calvino, Comentário à
Sagrada Escritura: As Pastorais, (São Paulo: Paracletos, 1998),
109.
[v] Encaixa-se aqui o grande herege
Charles Finney. Ele usava o jejum como uma forma de garantir o recebimento de
poder do alto. Sempre que percebia que o poder divino o abandonava, ele separava
um dia para jejum e oração, de maneira que o poder era, então, renovado. Eis o
seu testemunho: “Eu saía e fazia visitas e achava que não tinha causado nenhuma
impressão salvadora. Eu exortava e orava com o mesmo resultado. Eu então
separava um dia para jejum e oração em particular, temendo que esse poder me
abandonasse, e inquiria ansiosamente qual era a razão dessa aparente vacuidade.
Depois de me humilhar e chorar por socorro, o poder retornava sobre mim com todo
o seu frescor. Essa tem sido a experiência da minha vida”. Citado em John Piper,
Fome por Deus, (São Paulo: Cultura
Cristã, 2006), 109.
[vi]
D. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão
do Monte, (São José dos Campos: Fiel, 1999), 327.
[vii] Luciano Subirá, Compreendendo o Jejum Biblicamente, 3.
Artigo eletrônico.
[viii]
D. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão
do Monte, 322.
[ix]
Citado em John Piper, Fome por Deus, 13.
[x]
Richard Foster, Celebração da
Disciplina, (São Paulo: Vida, 2007), 83.
[xi]
Ibid, 84.
[xii] Deve ser observado que Jesus jejuou
por quarenta dias, quando da ocasião da sua tentação no deserto. No entanto, ele
e seus discípulos foram criticados por não jejuarem (Mateus 9.14,15; Marcos
2.18,19; Lucas 5.33-35), como observa J. P. Lewis in Merrill C. Tenney (Org.),
Enciclopédia da Bíblia Cultura
Cristã, Vol. 3, (São Paulo: Cultura Cristã, 2008), 399. Isso parece ser um
claro indicativo de que, para Jesus, embora o jejum seja esperado dos cristãos,
ele não deve se constituir numa norma fixa, mas sim algo feito com extrema
liberdade.
[xiii] Nas suas famosas Confissões, Santo
Agostinho fala um pouco sobre a sua prática do jejum ao contrapô-la com o desejo
por comer e beber: “Mas por ora esta necessidade me é grata, e luto contra essa
delícia, para que não me domine; é uma guerra cotidiana que sustento com jejum,
reduzindo meu corpo à escravidão”. Cf. Santo Agostinho, Confissões, (São Paulo: Martin Claret,
2002), 238.
[xiv] John Piper cita um sermão pregado
pelo Reformador alemão, baseado em Mateus 4.1, em 1524: “A respeito do jejum eu
digo o seguinte: é correto jejuar frequentemente a fim de subjugar e controlar o
corpo [...] Mas a pessoa não deve jejuar com vistas a merecer alguma coisa por
isso como por boas obras”. John Piper, Fome por Deus, 199.
[xv] Na edição de 1541 das Institutas,
Calvino entende que o jejum é uma prática associada ao arrependimento. Ele
escreve o seguinte sobre a aplicação atual do jejum: “Os pastores atuais não
fariam mal se, toda vez que vissem aproximar-se alguma calamidade, de guerra, de
fome ou peste, fizessem ver a seu povo que seria bom orar ao Senhor com choro e
jejum; desde que se fixassem no principal, que é quebrantar ou romper os
corações e não a roupa. Pois é certo que nem sempre o jejum vem com o
arrependimento, mas essa prática convém particularmente aos que querem declarar
que reconhecem que merecem a ira de Deus e, contudo, pedem o seu perdão por sua
clemência”. Cf. João Calvino, As
Institutas: Edição especial com notas para estudo e pesquisa, Vol. 2, V.10,
(São Paulo: Cultura Cristã, 2006), 136. Na edição de 1559, Calvino dedica um
longo trecho à consideração acerca da prática do jejum. Eis um trecho: “Em suma,
pode-se admitir assim: sempre que surgem controvérsias acerca da religião, a
qual precisa ser decidida ou em um sínodo ou em um tribunal eclesiástico, sempre
que se trata de eleger um ministro, enfim, sempre que se discute alguma coisa
difícil e de grande importância; por outro lado, quando aparecem os juízos da
ira do Senhor, como pestilência, guerra e fome, esta é uma santa e salutar
ordenança em todos os séculos: que os pastores exortem o povo ao jejum público e
orações extraordinárias”. Cf. João Calvino, As Institutas ou Tratado da Religião
Cristã, Livro 4, XII, 14, (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), 234. Edição
eletrônica.
[xvi] John Wesley, num sermão intitulado Causes of Inefficacy of Christianity,
disse uma frase que se tornou famosa: “O homem que nunca jejua não está em
situação diferente, com relação à sua jornada para o céu, do homem que nunca
ora”. Citado em John Piper, Fome por
Deus, 205.
[xvii] Jonathan Edwards era incisivo quanto
ao jejum ser praticado por ministros do Evangelho. Ele escreveu o seguinte em Thoughts on the Revival of Religion in New
England: “Nós que somos ministros, não só temos necessidade de um pouco da
verdadeira experiência da influência salvífica do Espírito de Deus em nossos
corações, mas nós necessitamos de uma porção dobrada em um tempo como este.
Precisamos ser cheios de luz como um vidro colocado sob o sol; e, com respeito
ao amor e zelo, precisamos ser como os anjos que são chamas de fogo. O estado
dos tempos requer uma plenitude do Espírito divino nos ministros, e não
deveríamos dar a nós mesmos nenhum descanso até que obtivéssemos isso. E, para
fazer isto, eu penso que os ministros, acima de todas as pessoas, deveriam estar
muito mais em oração e jejum, em secreto e uns com os outros. Parece-me que
seria favorável às atuais circunstâncias, que os ministros de uma vizinhança se
encontrassem frequentemente, e gastando dias em jejuns e oração fervorosa entre
eles, buscando suprimentos extraordinários da graça divina dos céus”.
Cf. Jonathan Edwards, The
Works of Jonathan Edwards, Vol. 1, (Grand Rapids, MI: Christian Classics
Ethereal Library, 2002), 1458,1459. Extraído do site http://www.ccel.org/ccel/edwards/works1.html. Minha tradução.
[xviii] Existem alguns registros no diário de
David Brainerd que mostram como era constante a sua prática do jejum. No dia 30
de junho de 1742 ele escreveu: “Passei o dia sozinho no bosque, em jejum e
oração; experimentei os mais temíveis conflitos de alma”. Em 20 de abril de
1743, Brainerd escreveu: “Separei este dia para jejum e oração, inclinando minha
alma diante de Deus com o fim de receber mais de sua graça, sobretudo para que
toda a minha aflição espiritual e inquietude interior fossem santificadas para a
minha alma”. No dia 10 de novembro do mesmo ano temos mais um registro: “Passei
este dia sozinho, em jejum e oração”. Cf. Jonathan Edwards, A Vida de David Brainerd entre os
Índios, (São José dos Campos: Fiel, 2005), 34,50,60.
[xix] Eis o testemunho de Spurgeon: “Os
nossos períodos de jejum e oração no Tabernáculo têm sido realmente dias
sublimes; nunca o portão dos céus estivera tão largamente aberto; nunca os
nossos corações estiveram tão perto da glória celestial”. Citado em Edward
McKendree. Bounds, Poder Através da
Oração, (São Paulo: Batista Regular, s/d), 12. Edição eletrônica extraída do
site http://www.monergismo.com.
[xxiv] Dallas Willard, O Espírito das Disciplinas, (Rio de
Janeiro: Danprewan, 2003), 189.
[xxv]
Richard Foster, Celebração da
Disciplina, 85.
[xxvii]
D.
Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do
Monte, 325.
[xxviii]
John Piper, Fome por Deus, 19.
[xxx] Raymond C. Ortlund Jr., Isaías: Deus Salva Pecadores, (Rio de
Janeiro: CPAD, 2009), 487.
[xxxii] Paulo ainda afirma o seguinte sobre a
sua prática de jejum: “Pelo contrário, em
tudo recomendamo-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência,
nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos
tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns” (2 Coríntios 6.4,5); “em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas
vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez” (2
Coríntios 11.27). Esta última referência, possivelmente, se trate de algo não
religioso, mas sim de caráter circunstancial, devido aos sofrimentos impostos
sobre Paulo.
[xxxiii]
Richard Foster, Celebração da
Disciplina, 90.
[xxxv] Ibid, 93.
[xxxvi] A. A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.
A. Hodge, (São Paulo: Os Puritanos, 1999), 377
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