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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O seis pelo meia-dúzia!

Rubinho Pirola

Estou no Brasil. E já faz um tempo. E assustado.

Encontrei a minha comunidade, bem, crescendo e sadia. Graças a Deus podia dizer eu, mas confesso que ainda não o fiz totalmente.

A preocupação é com o país. Depois de 14 anos, desde que sai para a aventura missionária, estou vendo - e sentindo - com mais propriedade um país mais "evangélico".

Mas não dá para evitar as óbvias percepções de quem carregou no bolso a expectativa meio orgulhosa do crescimento da fé que traz no nome, a ligação à Boa Notícia - a da graça feito carne.

Minhas percepções sobre o que era e o que é hoje:

Houve um tempo em que a "igreja da nação", não evangelizou, mas cristianizou, acostumou, amoldou a cultura, com algo que tinha alguns traços de cristianismo, mas era só isso, traços.

Paganismo, animismo e crendices, misturadas à cruz.

O tempo da essência pagã, com cosméticos cristãos que divulgava a ideia de um deus menor - idiota (aceitava a penitência do carnavalesco, "ungido" de cinzas pelos erros e excessos cometidos na festa popular da carne, que já vinha à igreja cheio de planos pro carnaval seguinte) e serviçal das ganâncias e demandas humanas, na pele das procissões, das novenas, das peregrinações para se conseguir comprar um carro, curar um filho doente...

Ah! Tinha também a aceitação de tudo, contanto que a figura do "cappo di tutti cappo", o papa, o supremo apóstolo, fosse preservada e o culto, à sua imagem - intocável, inatacável, blindado às criticas e pior, infalível, cultivado.

Cristianizado e não evangelizado, não discipulado, posto que o rótulo remetia a Cristo, mas não o carácter, a virtude, a essência. Só uma corzinha do que o Evangelho é e prega como notícia e modo de vida.

Foi também o tempo em que batia-se, espancava-se, perseguia-se os contrários. Nada com o "oferecer a outra face" ou ao amor ao inimigo, como pregava Jesus. E dá-lhe perseguições, puxadas de tapete... Até me lembro do que me contavam os parentes de como o meu avô fora impedido de ser enterrado no cemitério da sua cidade, no interior paulista, porque os padres não queriam que o "imundo protestante" fosse contaminar o campo santo. E os padres estavam por trás disso, certos de defenderem a "sã doutrina".

Ah! E o casamento com o estado? Foi o tempo do Brasil dos cabrestos, do voto mandado pelos poderosos de batina, de braços dados com os ladrões da época os políticos (que a rigor, eram até modestos na canalhice e perversidade, comparados aos de hoje). Os sacerdotes mandavam, dirigiam e o povo seguia dizendo amém.

Hoje somos mais "evangélicos". Há uma igreja evangélica em cada esquina - atesto isso da minha janela.

Mas o nome de Cristo continua - talvez com mais força - vilipendiado, ultrajado e igualmente usurpado e esvaziado do seu santo significado.

Estamos sujeitos aos apóstolos, só que agora em maior número. Democratizou-se o crime de "lesa liberdade". E estão igualmente inatacáveis e infalíveis, nas pregações que não estão na bìblia, nem nos gibis.

Como antigamente, na velha fé (fora da igreja - leia-se "a minha denominação" - não há salvação), as igrejas que ao invés de nomes inspirados, versículos ou frases bíblicos, carregam o do líder (onde agora, não bastasse o nome do impostor que toma o lugar do Senhor, têm já eles até a foto na fachada!!!) reivindicam um poder de salvar e de controlar a vida dos fiéis.

Viver a fé cristã parece só a troca de Iemanjá, Aparecida ou outro santinho qualquer por esse "jesusinho" que aceita uma linguiça para dar de volta um porco. Acendíamos a vela pra uns e agora para esse "outro" ídolo da moda.

Segue-se e vota-se no político, conforme o "santo-padre-pastor-apóstolo" indica e manda.

Trocamos o outrora popular "nossa-senhora", pelo "misericórdia", "amém-irmãos?" e outras palavras mágicas... sem significado algum, a não ser rechear mais um português cada dia mais mal falado.

Em nome da fé, como qualquer católico romano ignorante de antigamente (como estamos próximos!!!) ou muçulmano radical de hoje, damos porrada em umbandista, espírita ou até em outro "evangélico" que discorde da minha "igreja". E assim, quebramos centros espíritas, terreiros, boicotamos algum trabalho de outra facção,... Matamos, mas agora, em nome do Evangelho.

Carregamos a bíblia no sovaco, o peixinho colado na lataria do carro e mandamos "pra aquele lugar" o infeliz que não sinalizou para ultrapassar o meu automóvel (fora os CDs piratas, o sonegar de impostos, o louvar a Deus pela verba da corrupção que me chegou às mãos e por ai afora)... Cristianizados ainda estamos nós, mas e Cristo? O que existe dele na alma dessa nação? E pergunto: será o islã a próxima moda?

O Brasil mudou, viva o Brasil! Viva o Evangelho! Mas... onde estaria ele?

Desculpem-me os que ouviram - assustados - esses dias, de mim mesmo, que não sou evangélico, apesar de já ter sido por anos, batido, perseguido por chamar-me por esse nome.

Pode ser só da viagem e ser somente engano meu...

"...por isso o juízo está longe de nós, e a justiça não nos alcança; esperamos pela luz, e eis que só há trevas; pelo resplendor, mas andamos em escuridão." Is 59:9


Rubinho Pirola trouxe uma ânfora de azeite feito das azeitonas do jardim das oliveiras em Jerusalem e já faturou alto na unção aqui em São Paulo, Brasilia e Minas... Sobrou um pouco, ele misturou com o nacional (apóstolo tem este poder) ungiu o novo lote e me mandou fazer negócio untado lá na Conde de Sarzedas... Eu deixei o barril em consignação na loja do Richard. Agora é esperar pela "bença" aqui no Genizah.

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