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segunda-feira, 23 de março de 2009

Se Deus existe, porque há pobreza

No último sábado, 21 de Março de 2009 a editora Reflexão promoveu um evento no qual o teólogo Jung Mo Sung discursou sobre seu novo livro: Se Deus existe, porque há pobreza?


Dados Técnicos
Jung Mo Sung120 páginasFormato 14x21ISBN: 978-85-61859-01-5Cristianismo/ Ação Social/EspiritualidadeValor: R$ 19,90


Uma das eternas buscas do ser humano é entender a relação de Deus com a pobreza. Por mais que a humanidade evolua, é pouco provável que essa realidade desapareça por completo.
Jung Mo Sung, respeitado teólogo cristão, conduz-nos a uma compreensão dessa realidade social e de sua relação com Deus através do relançamento de sucesso “Se Deus existe, por que há pobreza?”
A pobreza é apresentada de forma desmistificada, mediante a análise das causas e dos contextos sócio-econômicos, demonstrando que a miséria dos excluídos é apenas uma das mazelas dos seres humanos que produzem ou aceitam sistemas sociais e políticos excludentes. Diante dessa realidade, o autor apresenta a fé em Deus como o caminho para vivermos valores mais solidários e humanos na atual sociedade individualista.
Nas páginas deste livro, você será convidado a repensar o mundo ao seu redor, e rever suas expectativas sobre pessoas e principalmente sobre Deus.
Nas linhas seguintes você encontrará uma pequena resenha da palestra e parabenizar Jefferson Ramalho pela excelente organização!
O professor Jung Mo Sung iniciou a palestra com Lucas 10:25-37, a parábola do bom samaritano.
Diante da situação de um home que havia sido espancado e estava quase morto no chão, passaram por ele o levita e o sacerdote e não o ajudaram. Entretanto o samaritano, que era considerado impuro pelos judeus, o ajudou. Essa parábola Jesus usou como exemplo para responder à pergunta de um legista (teólogo) à Jesus, a respeito de quem seria nosso próximo.
Na época o fato simples de pisar na terra de Samaria já era considerado pecado e Jesus usou justamente um samaritano nessa parábola. O professor Jung Mo Sung contou que havia participado de um treinamento de liderança cristã (TLC) e um padre contou que o próximo é em primeiro lugar a família, depois os amigos e por último os demais que estão ao redor. Entretanto o professor Jung Mo Sung discorda dessa afirmação e diz que Deus não se dá ao trabalho para revelar o óbvio, uma vez que o óbvio não é revelação. Mas Deus queria fazer algo ser entendido através dessa parábola.
Mas a pergunta central é: Porque o Sacerdote não o ajudou? Porque ele passou de largo? O professor explicou que sentir a dor de outros faz parte da natureza humana. É isso que nos permite fazer escolhas. Ao vermos um sofrimento, "viramos a cara". Por ser parte da nossa natureza, com certeza o sacerdote sentiu algo, mas porque ele seguiu em frente? Compaixão é sentir junto com... quer seja dor, alegria, medo, etc. Quando nós "viramos a cara", sabemos que não estamos fazendo a coisa certa e é preciso explicar isso à nós mesmos que não somos uma pessoa má.
Antigamente sangue representava impureza. Está relacionado à morte. O sangue precisava ser controlado e isolado. Exemplo disso é que a mulher com mioma ou no período de menstruação não podia ser tocada, ela era considerada impura. Por sua vez, o sacerdote era o homeme que representava a pureza, ele purificava pessoas impuras. Para tentar explicar sua reação diante do homem no chão ensanguentado, é preciso entender todo esse contexto. O sacerdote simplesmente processou essa informação e racionalizou de uma forma muito rudimentar que a pessoa estava com sangue, portanto impura e se estava impura era porque Deus em sua justiça tinha permitido isso. Portanto ele não deveria intervir na justiça de Deus...
A mesma linha de raciocínio deve ter passado pela cabeça do levita. Mas então porque o samaritano? Justamente um samaritano que era considerado impuro teria sido usado por Jesus no texto? Com qual objetivo? O samaritano está fora da lei, ele não entende de "Bíblia", de "Deus", e por isso não racionaliza de acordo com a lei de Deus. Portanto o samaritano vendo o homem espancado no chão, encheu-se de compaixão. Passou por aquela experiência onde não nos deixa ficar sem ação. Não é algo que queremos fazer, mas a situação nos força uma ação. Deus mandou Jeremias pregar, mas ele não queria. Quando pregava, apanhava, chegava em casa dizia à Deus que não iria mais pregar, Deus o repreendia e ele voltava em cena. Chegou ao ponto de amaldiçoar a hora em que sua mãe o concebeu! Mas ele não conseguia ficar sem fazer nada. Ele tinha que obedecer à Deus.
Querer discutir se o samaritano foi justo, se a forma que ele ajudou foi a melhor, se devia ter dado dinheiro ou não, se foi pouco, se bastante, tudo isso é uma questão secundária. O foco no texto é o que fazemos com o nosso coração. Toda força precisa ter sua energia canalizada afim de mover algo. Caso contrário é disperdício. O professor fez uma analogia ao movimento carismático que fazem de tudo, não possuem uma linha histórica.
A revelação fundamental da parábola é: Você quer ganhar a vida eterna? Deixe se tocar pela compaixão. Ainda que isso doa, que seja difícil. Se não sabemos como realizar isso, devemos participar em um grupo, em comunidade, com outros membros da igreja. Viver é se movimentar, agir. Ficar muito tempo parado dá uma sensação de vazio, de que a vida vai passando e não estamos vivendo. Insensibilidade é não reagir, compaixão é agir, solidariedade é o que nos permite não morrer antes do tempo e o que dá vazão à compaixão. Jesus disse certa vez: "Faze isso e viverás". Esse viverás não é a vida após a morte. Jeremias poderia se perguntar porque ele tinha que se preocupar com alguém que não tinha nada a ver com ele. A resposta é porque ele teve compaixão. E o que o fez e o que nos faz realizar isso? É a graça de Deus, porque por forças próprias vamos "virar a cara". Deixo me levar por essa força que vem de fora e não me faz ganhar nada em termos materiais.
Mas se Deus existe porque há pobreza então? Tudo o que acontece não acontece de acordo com a vontade de Deus? Deus não é todo poderoso? Alguns vão dizer que é porque o pobre está em pecado e é consequencia de sua impureza. Mas isso não é verdade. Sabemos que não é verdade. É uma maneira muito simplista de resolver essa questão. Mas o erro está na pergunta. "Todo o poder" e "amor", não combiman. Não posso apontar um revolver na cabeça de alguém e dizer: "Me ame!". Amor tem a contrapartida a liberdade da outra pessoa. Amar ou não. Deus é amor. Isso não há dúvidas. Então ele não é Todo Poderoso? A resposta é sim! Mas por amor ele se abdica de seu poder. Se você mandar seu filho fazer as coisas na marra ele nunca vai aprender, então você se abdica de seu poder para fazer seu filho amadurecer. Deus faz o mesmo conosco. Ele se abdica de seu poder.

E nós temos o dever de tornar o mundo melhor. Mas não somos Deus. Temos nossas limitações e não estamos em todos os lugares. Mas devemos sonhar com um mundo melhor e temos a responsabilidade para isso acontecer. Essa é a melhor forma de experimentar a graça de Deus. A boa nova de Jesus.
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Durante a sessão de perguntas o destaque foi uma discussão sobre um conflito filosófico que os cristãos podem experimentar. Se todos estão predestinados, o que estamos fazendo aqui? Pra que pregar o evangelho, tarefa que Deus nos deu e não deixou que os anjos realizassem? Se todos já estão predestinados, não haveria essa necessidade. Mas se pensarmos que então não somos predestinados e que cada um pode decidir sua vida e tomar seu caminho, então Deus não é onisciente? Mas Deus não sabe de todas as coisas? A conclusão que o professor Jung Mo Sung chega e sua linha de raciocício é de Deus é onisciente e nós somos livres sim. Deus não sabe exatamente qual o caminho vamos tomar, mas ele sabe de todas as possibilidades e as consequências para todas essas possibilidades, mas cabe à nós a decisão e o destino de nossas vidas. Por que nós somos livres.
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Jung Mo Sung: pós-doutorado em Educação e doutor em Ciências da Religião. É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo e de Teologia na Faculdade de Teologia, da mesma universidade. É coreano de nascimento, brasileiro naturalizado. Autor de mais de dez livros (alguns traduzidos para vários idiomas), dentre eles, Um caminho espiritual para felicidade e Sementes de esperança: a fé em um mundo em crise.

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