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sexta-feira, 27 de março de 2009

O mercado de eventos evangélicos no Brasil

Entrevista com Marcos C. Braga Cunha
Publicado em 14.06.2007


Marcos C. Braga Cunha é missionário e Diretor da Academia de Líderes da Sepal. Pós-graduado em Teologia, é coordenador do Instituto Willow, professor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo e do IDEAL - Instituto de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento de Líderes. É membro da equipe de pastoreio de pequenos grupos da Igreja Batista do Morumbi em São Paulo, além de consultor ministerial e palestrante nas áreas de Capacitação de Liderança e Gestão de Ministérios. Nesta entrevista, Marcos, que atualmente é o coordenador de Programa do Encontro Sepal para Pastores e Líderes, fala sobre o crescimento e a qualidade do setor de eventos evangélicos no Brasil.

A cada ano, o público evangélico se vê diante de um cardápio extenso e variado de eventos sobre adoração, teologia, missões, evangelismo, espiritualidade, liderança. Como você avalia o crescimento do setor de eventos entre os evangélicos?

Marcos - Podemos ver dois lados nessa questão. O lado positivo é que esse crescimento indica um maior interesse do povo evangélico por eventos fora de suas igrejas locais, e isso pode trazer grandes benefícios com a troca de informações e o compartilhar de experiências, além de ser muito positivo na medida em que permite conhecer outros contextos além do que é vivenciado no dia a dia da igreja. O lado negativo é que vemos uma proliferação de eventos que apenas desejam aproveitar o momento, a moda e o mercado, não trazendo nada de produtivo nem para a pessoa e muito menos para a Igreja.

Em termos de qualidade, poderia dizer alguns pontos fortes, e também fracos, que você tem observado nos eventos brasileiros? (em termos de organização, profissionalismo, participação de público, etc.)

Marcos
- Temos algumas conferências e congressos muito bons, mas outros são feitos de maneira amadora e repetitiva, sem a busca da excelência, e isso é reflexo do que fazemos na igreja local. Podemos destacar positivamente a procura de bons preletores e a interação com os participantes, mas em compensação temos uma mania de fazermos nos eventos uma repetição do que acontece nos cultos da igreja, usando a mesma fórmula, sem inovação. O foco do evento se perde na mesmice dos programas, além de transformarmos o encontro em uma banca de promoção e propaganda de produtos e pessoas.

Como você avalia a participação de estrangeiros como preletores nos eventos brasileiros? Ainda existe a tendência de achar que “os de fora” têm mais “conteúdo”? E aqueles que vêm “de fora” conseguem fazer a ponte com a realidade da igreja brasileira?

Marcos
- Essa é uma questão bastante complexa. Mas para resumir, penso que tudo depende do foco. Na Sepal temos como princípio trabalhar primeiro a vida do líder e depois seu ministério, assim trazemos estrangeiros pois eles têm uma perspectiva diferente, não necessariamente por ter mais conteúdo, mas pela novidade. Temos também a preocupação de trazer os nacionais, pois podem falar mais de perto com relação à aplicação prática dos princípios aprendidos. Tenho trabalhado também no Congresso de Teologia Vida Nova, nesse caso os nacionais são muito mais adequados pois o foco é produzir uma teologia brasileira.

Que fatores determinam o sucesso de um evento?

Marcos
- São vários, mas creio que os principais são: a credibilidade dos organizadores do evento, um tema relevante, a propaganda eficaz e a facilidade de acesso. Apesar dos nomes serem importantes, o evento alcançará sucesso com nomes famosos ou não, dependendo do interesse e da necessidade do público. Agora, sucesso não pode ser medido somente pelo número de inscrições ou pelo lucro das vendas, mas também pelo impacto nas vidas dos participantes e daqueles que serão influenciados por eles, e isso é muito mais difícil de perceber, talvez possa ser medido pelo retorno do público nos anos seguintes.

Você considera o público evangélico um público “exigente” quando o assunto é qualidade na organização dos eventos que participam?

Marcos
- Definitivamente não. Apenas alguns poucos exigem conforto e bom atendimento na logística do evento, mas a maioria não avalia nem o propósito de sua participação. É muito interessante ver alguns pastores e líderes discutindo por quartos e camas e deixando de lado o aproveitamento das palestras e seminários. Se o público fosse realmente exigente, não teríamos os mesmos preletores falando em diversos eventos sobre assuntos tão diversos de sua especialidade, apenas por ter um nome conhecido, e também não teríamos eventos em locais tão inadequados, só por serem mais baratos.

Qual a maior dificuldade encontrada por um ministério ou profissional que queira atuar no segmento de eventos cristãos?

Marcos
- Aliar custo e qualidade. Temos no meio evangélico a mania de achar que tudo tem que ser muito barato pois é para o ministério. Isso é resultado do ensino incorreto que temos na igreja, em que pensamos que tudo pode ser de qualquer jeito já que é feito de boa vontade. Precisamos parar de pensar pequeno e elevar nosso padrão de qualidade pois devemos o melhor para Deus. A qualidade dos eventos pode e deve ser melhorada, pois é fácil perceber que os eventos medíocres, repetitivos e sem conteúdo não têm continuidade apenas por serem de baixo custo.

Sabemos que a maioria das igrejas e ministérios possuem recursos limitados, que dificultam o investimento na área de eventos, cursos, treinamentos, etc. Que critérios você sugere que o pastor observe na escolha de um evento que faça valer o seu investimento?

Marcos
- Realmente creio que essa é uma perspectiva inadequada. Não creio que a maioria das igrejas possui recursos limitados, na verdade não sabemos corretamente como administrar os recursos que Deus nos dá. O que falta é clareza de visão para a igreja. Tenho realizado consultorias ministeriais em algumas igrejas e o que percebo e que carecem de planejamento a longo prazo. O critério mais adequado é a relação do evento com as necessidades de treinamento do líder e da equipe na direção da visão e valores de Deus para a igreja. Mas como avaliar isso se não sabemos para onde estamos indo?

Diante das novas propostas e das reflexões que apresentam, os eventos deveriam impactar as igrejas freqüentadas ou lideradas pelos participantes destes eventos. Qual a melhor forma de um participante pode dar retorno para a sua comunidade de forma que haja uma disseminação e aplicação do conteúdo recebido?

Marcos
- Realmente os eventos deveriam causar impacto na igreja, mas nem sempre é assim. Quando um evento causa impacto positivo na vida de um líder, todos os seus liderados percebem o reflexo automático disso na sua liderança. Os participantes de um evento que provoca resultados efetivos de mudança de vida, são sempre impelidos pelo Espírito a compartilhar esses princípios. Não são os relatórios escritos ou falados, mas a vida transformada que produz essa disseminação. Se o evento tem conteúdo e ligação com as necessidades da igreja, os resultados serão claramente percebidos pelo impulso que os participantes trarão à caminhada em direção à visão da igreja.
Instituto Jetro - Entrevistas

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