Sumário do Conteúdo
1. A divisão do Pentateuco em cinco livros não é original. Assim, embora não seja sem significado o fato de que em Nm 1:1 tenha início um novo livro (no qual os primeiros quatro capitulos formam a preparação para a partida do Sinai), esse livro, não obstante, forma uma unidade com os livros anteriores. Da mesma maneira, pode ser dito que o livro de Deuteronômio é a continuação do livro de Números, mas a separação entre os livros de Números e Deuteronômio é mais fundamental que a separação entre os livros de Levíticos e Números.
2. A história narrada no livro de Números cobre um período de trinta e oito anos - o período entre o segundo ano e o quadragésimo ano depois do Êxodo (vd as definições do tempo, em 1:1; 7:1; 9:1,15; 10:11; 33:38; cf. Êx 40:2; Dt1:3).
Na primeira parte Israel continua postada nas proximidades do monte Sinai (Êx 19:1 fala sobre sua chegada no Sinai). Nm 10:11 - 12:16 trata da partida do Sinai e da viagem até Cades (cf. 13:26); no segundo ano depois do Êxodo, Israel já havia chegado em Cades (cf. Dt 2:14). Mas, visto que os israelitas deram crédito às palavras derrotistas dos espias, seguiu-se uma prolongada vagueação pelo deserto (13 e 14). Pouco sabemos acerca dos acontecimentos pelos quais passou Israel durante os trinta e oito anos de suas vagueações (15:1 - 20:13). Devemos admitir a possibilidade que Cades, durante longo tempo, foi uma espécie de centro para Israel, enquanto que vários grupos de israelitas vagueavam pela península do Sinai. Depois desses trinta e oito anos, Israel partiu de Cades em direção a Canaã; marchou em redor de Edom, entrou nas planícies de Moabe, e derrotou Seom e Ogue (20:14 - 21:35). A última porção do livro de Números descreve as ações de Balaão, a idolatria de Israel no caso de Baal-Peor, e a punição dos midianitas.
3. Além de abordar pontos de história, esse livro contém todas as espécies de leis e regulamentos. A relação entre as leis e a história, e entre uma lei e outra nem sempre é muito clara para nós. Não obstante, o fato é que pelo menos em muitos casos, o autor deve ter mencionado alguma conexão. A solução mais simples para isso é supor que há certa conexão cronológica. Algumas vezes há igualmente uma conexão material; vd, por exemplo, quão bem 5:1-4 e cap. 18 correspondem com aquilo que acontece, e como 10:1-10 corresponde com aquilo que segue; depois que um retrospecto da viagem pelo deserto é apresentado (33:1-49), a narrativa tem prosseguimento (33:50 - 35:34) com regulamentos a respeito da conquista de Canaã e leis para quando ali estiverem habitando. Finalmente, não nos devemos esquecer que a contrução de muitos dos livros do Antigo Testamento levanta questões semelhantes àquelas a que aqui nos referimos (vd Salmos, Provérbios, Isaías, etc.).
Muitas leis (mas não todas elas) dizem respeito a questões de ritual. Os israelitas não distinguiam entre leis cúlticas, morais, jurídicas e sociais, conforme nós usualmente as distinguimos. Todas as leis e regulamentos têm por finalidade preparar o povo de Israel para a vida em Canaã sob as vistas do Senhor, como uma nação independente e bem orientada.
4. No livro de Números, Moisés é novamente a figura dominante, pintado em toda a sua grandeza e fraqueza, e guiando o povo em todos os aspectos. Por intermédio de sua mediação, o Senhor proporcionou a Israel uma variedade de leis e regulamentos, falando com Seu servo "boca a boca" (12:6-8). Por muitas vezes Moisés age como intercessor a favor do povo (11:2; 12:13; 14:13 e segs.; 16:22; 21:17). Moisés era "mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra" (12:3; cf. 14:5; 16:4 e segs.). Mas, não obstante isso, tinha também sua partilha de falhas humanas. Contrariamente à ordem do Senhor ele bateu na rocha (20:10 e segs.), e em certa ocasião queixou-se temperamentalmente (11:10 e segs.; cf. 16:15). Depois de Moisés, em questão de proeminência, aaprece Arão (1:3,17,44; 2:1, etc., especialmente caps. 12, 16 e 17).
A Mensagem do Livro
No livro de Números, como no caso da Bíblia inteira, o Deus da aliança, todo-poderoso e fiel como Ele é, revela a Si mesmo; é essa revelação que reúne as diferentes porções do livro de Números numa unidade. Nas leis e regulamentos que impõe, Deus demonstra o Seu cuidado para com o Seu povo. Israel se revolta frequentemente contra Ele. Em resultado, a ira do Senhor se ascende: Ele não permite que o pecado passe sem ser castigado (11:1-3,33 e segs.; 12:10 e segs.; cap. 14; etc.); Moisés e Arão não recebem permissão de entrar na terra de Canaã (20:12 e seg.). Não obstante, Deus não repudia o Seu povo; permanece fiel à Sua aliança. Guia Israel pelo deserto, pelo que chegam à terra prometida aos seus pais. Isso não é impedido nem pela infidelidade de Israel nem pelo poder das nações que se voltam contra Israel.
Atenção especial deve ser dada a certos aspectos da revelação de Deus no livro de Números.
1. O Senhor e realmente imutável em Sua fidelidade (cf. 23:19), mas isso não quer dizer que Ele seja um ser imóvel (vd especialmente a tocante história que há em 14:11 e segs.). Nessa conexão, devemos observar os poderosos antropomorfismos (vd. por exemplo, 10:35 e segs.; 15:3 ("meu manjar"), etc.); expressões essas que, apesar de não podermos aceitá-las num sentido estritamente literal, ao mesmo tempo nos demonstram quão profundamente o Senhor estava envolvido em todos os feitos de Israel.
2. A santidade de Deus é especialmente frisada. As histórias contribuem para isso (vd, por exemplo, 20:12 e seg.), e semelhantemente, embora de maneira diferente, as leis e regulamentos: quando um indivíduo se aproxima de Deus, precisa cumprir todas as espécies de regras prescritas, tem de estar livre de toda impureza (cf. também 1:50 e segs., etc.).
3. Prescrições cuidadosamente detalhadas são apresentadas nesse livro: Deus exerce o Seu domínio soberano sobre todas as coisas, até mesmo sobre os menores detalhes.
4. Logo que os filhos de Israel chegaram às fronteiras da terra prometida cedem à tentação de servir aos deuses da nova terra. Porém, o Senhor não é apenas o Senhor do deserto: Ele domina à vontade um adivinho pagão (caps. 22-24), e castiga os israelitas por causa de sua idolatria (cap. 25), juntamente com aqueles que haviam seduzido a Seu povo (cap. 31).
Naquilo que foi dito acima, já foi suficientemente indicado o caráter cristológico do livro de Números. Nesse livro, como noutros lugares, Deus revela a Si mesmo como o Deus fiel da aliança. Em outras palavras, Ele revela a Si mesmo na face de Cristo. Em adição, muito existe nesse livro que tem um sentido tipológico; nas pessoas (especialmente Moisés e Arão), nas ocorrências e nas leis, o Cristo vindouro projeta Sua sombra à Sua frente (cf. Jo 3:14; 1 Co 10:1 e segs.; Hb 3:7 e segs.; 9:13; etc.).
Bibliografia Vd as diversas introduções ao Antigo Testamento - por exemplo, A. Bentzen, Introduction to the Old Testament, 1952; O Eissfeldt, Enleitung in das Alte Testament, 1956; E. J. Young, An Introduction to the Old Testament, 1957 (trad. em português: Introdução ao Antigo Testamento, Edições Vida Nova, 1964); e os vários comentários - por exemplo, G. B. Gray, Numbers, ICC, 1903; L. E. Binns, the Book of Numbers, 1950, na The Soncino Books of the Bible; J March, Numbers, IB, II, 1953; W. H. Gispen, Het boek Numeri, I, 1959, em Comentaar op het Oude Testament. N.H.R.; J. D. Douglas, O Novo Dicionário da Bíblia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário