Uma arte sobre fotografia do Cristo Redentor vertendo lágrimas de pedra, na capa da revista "Veja" desta semana, foi profética. O símbolo internacional do Rio e uma das sete maravilhas modernas foi atacado por vândalos que picharam até frases como "Cadê Patrícia?", em alusão ao caso da engenheira Patrícia Amieiro, desaparecida, que teria sido morta por PMs na Barra da Tijuca. A pergunta é justa, mas a pichação do Cristo é de uma atrocidade, que poderia ser considerada crime de lesa-pátria. É o retrato mais infame do ponto que chegou a prática nefasta de pichadores e suas inscrições ególatras, que sujam a paisagem urbana, desrespeitam os direitos dos cidadãos. Jesus chorou de novo. Eu amo a arte do grafite, mas detesto os hieróglifos dos pichadores que infelizmente ainda são tolerados por artistas do spray. Num pequeno documentário que fiz sobre o dilema entre pichação e grafite - ainda em fase de finalização - pude perceber como alguns grafiteiros tentam passar a mão na cabeça dos pichadores.
Depois de ter ficado isolado por mais de 25 quedas de barreiras nas estradas de acesso, no Corcovado, o Cristo amanheceu pichado, também em consequência da incompetência dos responsáveis pela proteção do monumento. A imagem publicada na primeira página do GLOBO doi na alma de cariocas apaixonados pela cidade e por seu maior cartão postal, prestes a completar 80 anos. O close na cabeça do Cristo, cercada por andaimes da obra de recuperação, transmite um momento de fraqueza da estátua que, para alguns credos, representa a imagem do filho de Deus. Temos a nítida sensação de um Cristo - em sua condição de homem - humilhado, acuado, preso por andaimes, silenciado pela marca vil dos infames, no cume do morro, a 800 metros do nível do mar.
A Polícia Federal vai investigar o ataque ao Cristo. Estou na torcida que descubra e enquadre dentro da lei os irresponsáveis que praticaram esse crime contra a cultura e a cidade do Rio de Janeiro.
Enquanto não houver punição rigorosa para todos os pichadores, sejam pobres da periferia ou jovens de classe média, essa violência vai continuar sendo mais uma ameaça permanente nas cidades.
foto do alto: Genilson Araújo (O Globo)
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