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terça-feira, 2 de março de 2010

Igreja: lugar de sábios ou de antiintelectuais?

“Não se aparte de sua boca o livro dessa Lei;
antes medita nele dia e noite” – Js 1:8a


Hoje quero abordar um tema que há tempos tem tomado espaço nas minhas reflexões: o antiintelectualismo dentro das igrejas. Então vamos lá.

Observe a mensagem a seguir. Ela é um trecho do discurso proferido por Charles Malik, durante a inauguração do Billy Grahan Center, no campus da Wheaton College, e tinha como tema “As duas tarefas da evangelização”. Segundo Malik a salvação é tanto para a alma quanto para a mente, isto é, converter as pessoas não apenas espiritualmente, mas também intelectualmente.


“Devo ser franco com vocês: o antiintelectualismo é o maior perigo que o cristianismo evangélico enfrenta. A mente, compreendida em suas maiores e mais profundas faculdades, não tem recebido suficiente atenção. (...) O resultado é que o terreno do pensamento criativo é abandonado e entregue ao inimigo. Quem, entre os evangélicos, pode enfrentar os grandes pensadores seculares em seus próprios termos acadêmicos? Quem, entre os estudiosos evangélicos, é citado pelas maiores autoridades seculares como fonte normativa de história, filosofia, psicologia, sociologia ou política? (…) Por uma maior eficácia no testemunho de Jesus Cristo, bem como em favor de sua causa, os evangélicos não podem se dar ao luxo de continuar vivendo na periferia da existência intelectual responsável.”

O detalhe que chama mais a atenção é o fato de que este discurso foi proferido em 7 de novembro de 1980, ou seja, trinta anos atrás. Não é difícil, porém, constatar que o alerta de Charles Malik não foi o suficiente para que algo fosse feito. Atualmente, o que vivemos é, sem dúvida, uma época extrema de antiintelectualismo, em todas as áreas, inclusive dentro da Igreja Evangélica.

Por incrível que possa parecer, mesmo vivendo a chamada “era do conhecimento”, onde informação de qualidade representa poder, uma época em que boa parte da população, mesmo de baixa renda, tem acesso a televisão, radio e internet, é espantoso constatar que a população, em geral, não consegue lidar com essas informações. Ou pior, não consegue processar tais informações, nem tem senso crítico suficiente para avaliar a qualidade, a veracidade e a utilidade das informações que recebe.

Outros, não poucos, ainda preferem manterem-se ignorantes, nutrindo um sentimento de desdém pelo saber e pelas pessoas que anseiam por estudo e conhecimento. A essa situação podemos chamar antiintelectualismo.

Segundo pesquisas recentes, voluntariamente, os alunos brasileiros lêem, em média, cerca de 1,3 livros por ano. Talvez este seja um dos motivos pelos quais esses alunos têm tão baixos níveis de compreensão e interpretação de textos, e isto, inevitavelmente, se reflete naqueles que freqüentam a igreja e mantêm a mesma postura com relação ao estudo da Bíblia.

Esta defasagem intelectual impõe à Igreja a necessidade de tomar medidas urgentes, como a retomada do incentivo à educação cristã e às quase extintas Escolas Bíblicas Dominicais.

Isto se torna ainda mais relevante, quando lembramos que nós cristãos somos chamados a batalhar pela fé que uma vez nos foi dada (Jd 1:3). Outra razão para que o cristão não se deixe levar pelo que John Sttot chama de “cristianismo de mente vazia” é a necessidade de estarmos sempre preparados para combater as falsas filosofias que proliferam mundo, bem como, e pior ainda, as falsas teologias que invade nossas igrejas.

O cristão precisa ter conhecimento da Palavra de Deus, para não se deixar levar por essa onda de heresias praticadas dentro de certas comunidades, que não vem ao caso citar neste momento. Mas o que se vê, cada vez mais é o povo evangélico, numa postura antiintelectual, deixando de usar sua “porção bereiana” (At. 17:11), preferindo ser iludido com teologia da prosperidade, amuletos gospel, corrente da prosperidade e todo tipo de “mercadoria da fé”.

Triste mesmo é constatar que boa parte deste antiintelectualismo é incentivado por alguns líderes religiosos. Talvez porque imaginam que se mantiverem os seus seguidores na ignorância, poderão enganá-los com maior facilidade.

O início do antiintelectualismo nas igrejas protestantes teve sua gênese com os pregadores avivalistas do século 19, que no afã de lutar contra a apatia e frieza devocional de suas congregações, exageravam no aspecto emocional do cristianismo. Alguns, nem todos, diga-se de passagem, caíram em outro estremo, o desprezo pela intelectualidade.

Ainda hoje é possível ver exemplos de lideranças estimulando o antiintelectualismo. Edir Macedo, líder maior da IURD, em seu livro A Libertação da Teologia, escreve: “Todas as formas e ramos da teologia são fúteis, não passam de emaranhados de idéias que nada dizem ao inculto, confundem os simples e iludem o sábio. Nada acrescentam à fé e nada fazem pelos homens, a não ser aumentar sua capacidade de discutir e discordar entre si.”

A bíblia é clara quanto a necessidade de reflexão intelectual. Vários passagem recomendam: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor.” (Os 6:3ª); “Errais não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt 22.29); “Persiste em ler, exortar e ensinar” (1Tm 4.13) e “Antes, crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pe 3.18), entre outros.

E o resultado? Dá uma olhadinha no vídeo abaixo. Não quero criticar o cantor, pois minha capacidade musical é semelhante à dele, mas repara só no conteúdo da mensagem que ele está transmitindo.



Autor: Wilson Parpinelli
Fonte: [ Teologia Inteligente ]

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