De quando em vez sinto isto, é a lembrança dos amigos daquela época, das casas, das brincadeiras, das paixões, mas quando os sondo com franqueza, nada encontro. Os amigos de outrora foram tão leais ou tão vis quanto os que me rodeiam, as paixões tão passageiras quanto pode ser qualquer paixão, mas - coisa estranha - é tudo tão atraente, tão desejável. É uma espécie de platonismo do passado. Cada memória é carregada de um ideal de pureza, de beleza, de alegria, de quase santidade.
Se a verdade é a descrição do que a coisa realmente é, então posso classificar tal lembrança como falsa, porque não traz a verdade do tempo ou do lugar lembrados, por outro lado nos parece uma resposta contundente aos que vêem no ideal de uma vida futura feliz uma muleta existencial, uma fuga do presente. Porque, ao que me parece, podemos deduzir que a busca pela Alegria não está ligada a um futuro distante e improvável, mas se parece muito mais com algo que está atrelado a alma, um arquétipo universal que não está limitado ao tempo ou ao espaço. E isto deve significar algo mais que fuga. Este Éden não é criado por nós, se fosse não seria tão sublime, a coisa criada não pode ser maior que o seu criador, é a saudade de algo maior que nós mesmos, é um desejo de retorno a terra dos pais mesmo tendo nascido em solo estrangeiro, é a vontade do filho do rei deposto de retomar o trono, porque ser nobre é a sua própria natureza.
2 comentários:
Muito bom ! ! !
Sensacional!!!
"Alegria" com "A" maiúsculo. Só poderia ter vindo de 2 caras: do próprio autor, ou de um dos seus maiores admiradores.
Realmente, temos saudade da nossa nobreza.
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