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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Por que celebrar o Nascimento, e não somente Sua Morte?
Hermes Fernandes
As implicações cósmicas da Encarnação
Uma das mais importantes doutrinas do Cristianismo é a Encarnação de Cristo. Enquanto os católicos costumam dar um valor maior à Sua Morte, os protestantes tendem a valorizar mais a Sua Ressurreição, e os pentecostais a Sua Volta. Já os cristãos ortodoxos, que são maioria no Leste Europeu e na Rússia, dão valor ímpar à Encarnação de Cristo.
Sem dúvida é uma das mais importantes doutrinas cristãs, sem a qual todo o prédio cairia. Se Ele não houvesse encarnado, também não teria morrido, e conseqüentemente jamais teria ressuscitado, e por isso, também não voltaria no final dos tempos.
No mês em que o mundo ocidental comemora o Natal, gostaria de sugerir que fizéssemos uma reflexão sobre tão importante doutrina.
Deus Se fez homem! Em outras palavras, o Infinito Se encerrou dentro de um corpo finito, o Todo-poderoso assumiu nossa condição humana.
Antes de Se fazer homem, Ele teve que passar por todas as etapas pelas quais os humanos passam para vir ao Mundo. Teve que ser um minúsculo espermatozóide, fecundar o óvulo de uma mulher, ver Suas células se multiplicarem, ser gestado por nove meses, e por fim, atravessar o canal uterino e nascer. Provavelmente, levou uma boa palmada para inaugurar Seu sistema respiratório com um estridente choro. Ele não pulou nenhuma etapa.
Teve que aprender a amamentar-se nos seios de Maria, a falar, engatinhar, andar (e para isso deve ter levado uns bons tombos...). Não acredito que Ele tenha sido uma espécie de menino prodígio, como propõe a literatura gnóstica. Sua desenvoltura demonstrada quando flagrado por Seus pais rodeado de doutores da Lei, se devia mais à Sua aplicação em aprender, do que a um QI privilegiado.
O que mais me chama a atenção na Encarnação é nova fase que ela deflagra na relação entre o Criador e a criação. Através dela, Deus mergulha de cabeça na realidade criada, e Se faz parte dela. Não é à toa que Paulo se refere a isso como “o mistério da piedade” (1 Tm.3:16).
Deus passou a viver entre nós. Nas palavras de João, Ele Se “tabernaculou” entre nós, isto é, armou Sua tenda a fim de morar com o Seu povo (Jo.1:14). Uma tradução mais literal e contextualizada diria que Ele Se mudou para a nossa vizinhança. Em outras palavras, Deus tornou-Se nosso vizinho!
Ele cumpriu o que havia prometido na Antiga Aliança: “Porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma não vos aborrecerá. Andarei no meio de vós, serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo” (Lv.26:11-12). O que muitos julgam que ainda se cumprirá, na verdade teve seu cumprimento em Cristo, quando de Sua Encarnação (Ap.21:3).
Ao entrar de sola no Universo que Ele mesmo criou, Deus Se tornou parte integrante dele. Reflita um pouco comigo: Ele comeu nossa comida, bebeu de nossa água, respirou nosso ar.
Nos cerca de 12 mil dias em que caminhou entre nós, Ele interagiu com o ambiente à Sua volta, e assim o santificou. A água que Ele consumiu passou por Seu organismo, e foi devolvida. O ar que Ele respirou passou por Seus pulmões, e foi devolvido à atmosfera. Tudo o que Ele ingeriu, foi digerido.
Para entendermos melhor as implicações disso, reflita sobre esses fatos comprovados cientificamente: Cada vez que inspiramos recebemos do meio 1022 átomos e uma parte significativa dessa enorme quantidade de material entra no nosso corpo para formar as células do coração, do cérebro, dos rins, dos neurônios e etc. Cada vez que aspiramos retiramos de nosso corpo a mesma quantidade de átomos. Nós literalmente aspiramos pequenas partes do nosso cérebro, do nosso coração e de nossos rins. Podemos concluir que a cada segundo, nosso corpo está se renovando, transformando-se mais rapidamente do que quando trocamos de roupa. De certa forma, podemos dizer que ninguém pode apoiar-se duas vezes sobre a mesma carne e ossos. Nas últimas 3 semanas 1015 átomos têm fluido através do nosso corpo para ir para corpos de outras espécies neste planeta. Estudos com isótopos radioativos mostram, com grande elegância, que trocamos 98% dos átomos de nosso corpo em menos de um ano e todos os átomos em dois anos e meio. Nós desenvolvemos um novo fígado a cada 6 semanas, uma nova pele uma vez por mês, um novo revestimento do estômago a cada 5 dias, um novo esqueleto a cada três meses. Mesmo as nossas células do cérebro com as quais pensamos, que são constituídas de carbono, hidrogênio, nitrogênio e oxigênio, não são as mesmas do ano passado. Portanto, nosso corpo atual não é o mesmo que utilizamos enquanto aprendíamos a andar. A cada sete anos todos as células do nosso corpo são repostas.
Em todo o tempo, compartilhamos intimamente o nosso corpo com outros corpos à nossa volta. Já dizia o poeta americano Walt Whitman: "Todos os átomos que pertencem a você também pertencem a mim". Embora se trate de poesia, esta afirmação não é apenas metafórica. Estudos com isótopos radioativos têm mostrado que, neste instante de nossa existência possuímos um milhão de átomos que poderiam ter pertencido um dia ao corpo de Eisnten, de Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Napoleão Bonaparte. Simplesmente não podemos nos separar fisicamente de nada e de ninguém que já tenha passado por este mundo. E isso inclui... JESUS!
Átomos que pertenceram ao Seu Corpo ainda estão entre nós. Por causa de Sua Encarnação todo o Cosmos foi sacralizado.
Por isso, podemos afirmar que a criação como um todo passou a ter valor sacramental. Além do batismo e da Santa Ceia, temos um terceiro sacramento: o Cosmos. E tudo por causa da Encarnação.
Daí a razão pela qual Paulo atribuiu valor eucarístico à criação:
“Porque tudo o que Deus criou é bom, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças (originalmente, “eucaristia”), porque pela palavra de Deus (pelo logos divino que Se encarnou), e pela oração, é santificada” (1 Tm. 4:4-5).
A criação perdeu sua profanidade inerente, e adquiriu, através da Encarnação de Deus, um valor sacramental. Por isso, na visão que teve, Pedro foi advertido a não chamar de impuro aquilo que Deus havia purificado, nem mesmo os animais reprovados pela Lei para o consumo humano.
Agora, além de possuir um Corpo Místico, a saber, a Igreja, Cristo também possui um Corpo Cósmico. Com Sua ressurreição, Ele abarcou em Si mesmo toda a realidade, tanto a espiritual, quanto a material (Ef.1:9-10; Cl.1:19-20). Nada ficou de fora do escopo de Sua obra, iniciada na Encarnação, consumada na Cruz, e confirmada na Ressurreição, e plenamente manifestada no final das Eras. Em breve, todo o Universo se transfigurará, e revelará a glória de Deus nele latente, para que, finalmente, “Deus seja tudo em todos” (1 Co.15:28).
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