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sexta-feira, 8 de junho de 2012

O inferno não é aqui


Não, eles não ficarão impunes. Não vai acabar em pizza. O Juiz de toda a terra (Gênesis 18.25) e de todos os homens (Hebreus 12.23) manifesta (tempo presente) do céu (caráter universal) sua ira sobre toda impiedade e injustiça dos homens (Romanos 1.18). Não sei bem como essa coisa acontece, mas o Novo Testamento relata o julgamento dos judeus que rejeitaram o Messias (1Tessalonicenses 2.14-16), do mentiroso e vaidoso casal Ananias e Safira (Atos 5.1-11), do feiticeiro Simão que pretendeu comprar a graça de Deus (Atos 8.20-23), do orgulhoso Herodes (Atos 12.21), do mágico Elimas que se opunha ao Evangelho (Atos 13.9-11) e dos irreverentes de Corinto, afligidos com doenças, inclusive fatais (1Coríntios 12.29-32). Deus faz juízo e justiça na história. Tem seus limites de tolerância ao pecado (Gênesis 15.13-16; Romanos 1.18).
A Bíblia é enfática em afirmar que “o juiz está às portas” (Tiago 5.9), e “todos terão que prestar contas àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos” (1Pedro 5.4), pois “Deus estabeleceu um dia quando haverá de julgar o mundo com justiça” (Atos 17.31), mediante Jesus Cristo (Romanos 2.16). O teólogo anglicano J. I. Packer está certo ao afirmar que “Deus cuidará para que cada pessoa, cedo ou tarde, receba o que merece, aqui ou na vida futura”, pois “todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más” (2Coríntios 5.10), e no dia do justo julgamento, que será também um dia da ira de Deus, “cada um receberá conforme o seu procedimento” (Romanos 2.5,6). O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, revelado na Bíblia Sagrada, não pode ser acusado de indiferença moral.
Sendo verdadeiro que “o inferno está sempre do outro lado de Deus, como aquilo que ele não quer e contra o qual luta”, pois “está contra Deus à mesma e precisa medida que está contra o homem”, conforme bem disse o teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga, também é verdadeiro que apesar de ser o inferno “aquilo que Deus não quer e que nunca deveria ser”, este inferno é conseqüência inevitável àqueles que rejeitam a salvação, pois “o inferno é a não-salvação”.
Existe um lugar em mim que deseja concordar com a carmelita francesa Tereza de Lisieux, quando diz “creio no inferno, mas acredito que está vazio”. Mas confesso igual desejo quanto à manifestação da justiça de Deus, capaz de trazer sentido às incoerências próprias da liberdade humana exercida sob o domínio da maldade egocêntrica, que não hesita em destruir, usar e abusar, para satisfazer seus mais mesquinhos caprichos, desejos e melindres. Minha indignação contra o mal sistêmico que afeta todos os segmentos da sociedade multiplicando vítimas me faz desejar a existência do inferno. Minha convicção de que esse mal habita também em mim, que “faço o que não quero e sou incapaz de fazer o bem que desejo”, me faz considerar a possibilidade de um inferno vazio. Entre esses dois sentimentos, me resta apenas gritar, em alegre e profético desespero, as palavras de Paulo, apóstolo  (Romanos 7.25; 8.1; 5.18): “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus”, pois “assim como uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens”.

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