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TEXTO (MATEUS
6.16-18)
16. Quando jejuardes, não vos mostreis
contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer
aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.
17. Tu, porém, quando jejuardes,
unge a cabeça e lava o rosto, 18.
com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em
secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.
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INTRODUÇÃO
Meus amados irmãos, quando
nos propomos a estudar um assunto como o jejum, devemos nos precaver contra
inúmeros mal-entendidos. Especificamente, existem dois extremos quanto ao jejum.
De um lado, estão aqueles que afirmam que o jejum é uma obrigação para o crente
em nossos dias. Afirma-se que, “crente que não jejua não é consagrado, não
recebe o batismo com o Espírito Santo” e outras coisas mais. Nessa fileira estão
os nossos irmãos pentecostais e carismáticos. Interessantemente, eles estão
aliados ao catolicismo romano, que enxerga o jejum como algo imprescindível e
obrigatório para o cristão. Por exemplo, no catolicismo, o jejum é algo ordenado
como possuindo várias funções: 1) como forma de preparação para a pessoa receber
a comunhão: “A fim de se prepararem convenientemente para receber esse
sacramento, os fiéis observarão o jejum prescrito em sua Igreja” (§1387)[i];
2) como forma do sacramento da penitência (§1434,1438)[ii];
e 3) como mandamento expresso, possuindo caráter obrigatório: “O quarto
mandamento (‘Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja’)
determina os tempos de ascese e penitência que nos preparam para as festas
litúrgicas; contribuem para nos fazer adquirir o domínio sobre nossos instintos
e a liberdade de coração” (§2043).[iii]
Eu creio que foi exatamente contra esse tipo de postura[iv]
que o apóstolo Paulo se pronunciou em 1 Timóteo 4.1-3: “Ora, o Espírito afirma expressamente que,
nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos
enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e
que têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento e exigem
abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de
graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a
verdade”.
Um agravante entre muitos
evangélicos, é que eles acabam tratando o jejum como uma espécie de “varinha de
condão”, uma espécie de poder mágico[v],
uma moeda de troca para barganhar com Deus favores pessoais. Por exemplo, uma
pessoa que jejua porque deseja receber uma promoção no emprego, passar em um
concurso ou em um vestibular. Muitos disfarçam o uso equivocado do jejum sob o
rótulo “resposta de oração”. A exortação é a seguinte: “Se você quer uma bênção,
então jejue!”. Meus irmãos, isso é perigoso, pois “no momento em que começarmos
a dizer: ‘Porquanto faço isto, obtenho aquilo’, isso significará que teremos
começado a controlar a bênção divina. Isso é um insulto a Deus, violando a
grande doutrina de Sua soberania final”.[vi]
Isso está errado, pois a pessoa acha que a eficácia está no jejum! “Quando
jejuamos, não devemos crer no jejum, e sim em Deus”.[vii]
Precisamos ter muita cautela com aqueles que dizem que o jejum é algo
obrigatório para o discípulo de Jesus Cristo ou que o tratam como um ritual
mágico.
O outro extremo fica por
conta da maioria dos protestantes que, negligenciam quase que inteiramente o
jejum. Existem algumas razões para tal negligência. Em reação ao catolicismo e
ao pentecostalismo, os protestantes acabam negligenciando a prática do jejum.
Pensam que, porque o jejum não é expressamente ordenado nas Sagradas Escrituras,
então, não se deve jejuar de forma alguma. Martyn Lloyd-Jones afirma que,
“tendemos a cair no extremo oposto, deixando inteiramente de lado o jejum, em
nossas considerações e em nossa prática diária”.[viii]
Outra razão para a atual negligência do jejum é o fato da grande indiferença que
as pessoas, mesmo os evangélicos têm para com Deus e os assuntos espirituais.
Porque as pessoas têm Deus como algo insignificante, como um acessório para suas
vidas, tudo aquilo que está associado a Ele, bem como com o cultivo de uma vida
piedosa perde a sua importância diante das pessoas. Um homem chamado Edward
Farrell afirmou o seguinte sobre isso: “Quase em toda parte e em todos os
tempos, o jejum sempre ocupou um lugar de grande destaque, visto que ele se
encontra estreitamente relacionado com o profundo senso religioso. Talvez isso
explique a negligência do jejum em nosso tempo. Quando o significado de Deus
diminui, o jejum desaparece”.[ix]
Um pastor chamado Richard Foster afirmou que em um período de quase cem anos nem
mesmo um único livro sobre jejum foi escrito.[x]
Há ainda uma terceira razão
para a atual negligência em relação ao jejum. A nossa superexposição à ideia de
que temos necessidade de várias refeições durante o dia. Foster fala sobre esse
problema:
A propaganda com a qual somos alimentados continuamente
convence-nos de que, se não tivermos três refeições fartas todos os dias, com
diversos petiscos nos intervalos, ficaremos à beira da inanição. Somando-se a
isso a crença popular de que é uma virtude satisfazer cada um dos apetites
humanos, o jejum tornou-se obsoleto.[xi]
Contrariamente a tudo isso,
queridos irmãos, a Bíblia apresenta o jejum como algo benéfico e também como
algo válido para os cristãos dos dias de hoje. Faríamos bem em examinar o que
ela ensina sobre essa disciplina maravilhosa. A Bíblia apresenta uma longa lista
de personagens que praticaram o jejum: Moisés, Davi, Elias, Ester, Daniel, a
profetisa Ana (Lucas 2.36,37), João Batista, Paulo, Jesus[xii]
e os cristãos da igreja primitiva. Igualmente, muitos dos cristãos notáveis da
história da Igreja jejuavam e davam testemunho de seu valor. Entre eles, estão
Agostinho, bispo de Hipona[xiii],
Martinho Lutero[xiv],
João Calvino[xv],
John Knox, John Wesley[xvi],
Jonathan Edwards[xvii],
David Brainerd[xviii],
Charles Spurgeon[xix]
e Ashbel Green Simonton.
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EXPOSIÇÃO
I – DEFINIÇÃO DE
JEJUM
Muitas vezes, o jejum é
definido meramente como abstenção de comida, ou de comida e bebida, por um
período específico de tempo. “No jejum, nós nos abstemos de alimentos e, não
raro, também de líquidos”.[xxiv]
Richard Foster define o jejum como “abstenção de comida por motivos
espirituais”.[xxv]
Acontece que jejum não diz
respeito apenas a comida e a bebida. A questão não é o alimento em si. De acordo
com John Piper, “a questão engloba qualquer coisa e todas as coisas que poderiam
ser um substituto para Deus”.[xxvi]
Lloyd-Jones diz que o jejum “não deve confinar-se à questão de alimentos sólidos
e líquidos; pelo contrário, o jejum, na realidade, deveria incluir a abstinência
de qualquer coisa, legítima em si mesma, tendo-se em vista algum propósito
espiritual especial”.[xxvii]
Isso significa, meus amados irmãos, que mesmo coisas boas, muitas vezes podem
servir como obstáculo para o cultivo de uma intimidade maior com o Senhor; podem
acabar ocupando o lugar de Deus.
O jejum envolve também
abstenção programada de coisas como sexo entre pessoas casadas (1 Coríntios
7.5). Muitos comentaristas afirmam que a disposição de Abraão em sacrificar o
seu filho Isaque se configura como uma espécie de jejum, pois Abraão “preferiu a
Deus à vida de seu filho”.[xxviii]
Com isso em mente, podemos ter a convicção de que, jejum não é o confisco do
mal, mas sim o confisco daquilo que é bom, o confisco do bem.
O nosso foco está,
especificamente, no jejum como abstenção de comida e, em alguns casos, de
bebida, durante um determinado período. No entanto, extrairemos alguns
princípios úteis para toda e qualquer abstenção que desejarmos fazer por amor a
Deus.
II – O ENSINO BÍBLICO SOBRE
O JEJUM
2.1.
No Antigo Testamento
2.1.1. A Psicologia do
jejum
Algo interessante nas
páginas do Antigo Testamento é a psicologia do jejum, isto é, as emoções que o
acompanhavam. Por exemplo, alguns casos são apresentados em que o jejum foi
praticado não como expressão de adoração a Deus, mas motivado por sentimentos e
emoções violentas, como inveja, ira e aborrecimento: “E assim o fazia ele de ano em ano; e, todas
as vezes que Ana subia à Casa do SENHOR, a outra a irritava; pelo que chorava e
não comia” (1 Samuel 1.7); “Pelo que
Jônatas, todo encolerizado, se levantou da mesa e, neste segundo dia da Festa da
Lua Nova, não comeu pão, pois ficara muito sentido por causa de Davi, a quem seu
pai havia ultrajado” (1 Samuel 20.34); “Então, Acabe veio desgostoso e indignado
para sua casa, por causa da palavra que Nabote, o jezreelita, lhe falara, quando
disse: Não te darei a herança de meus pais. E deitou-se na sua cama, voltou o
rosto e não comeu pão” (1 Reis 21.4). No entanto, meus irmãos, esse tipo de
abstinência de comida não tem nada de religioso.
Frequentemente, o jejum
aparece nas Escrituras como uma expressão de aflição espiritual, como se a
pessoa que o pratica quisesse dizer á deidade: “‘Eu sou penitente; eu não sou
superior e poderoso. Você não precisa afligir-me mais’”.[xxix]
O sentimento do que jejua é como um apelo à piedade da deidade. Davi é
representativo aqui: “Respondeu ele:
Vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe se o SENHOR se
compadecerá de mim, e continuará viva a criança?” (2 Samuel
12.22).
2.1.2. As ocasiões e condições do
jejum
É preciso agora, queridos
irmãos, compreendermos as ocasiões em que o jejum era praticado no Antigo
Testamento. O jejum foi ordenado por Deus para ser praticado obrigatoriamente
uma vez por ano. Isso deveria ocorrer no Dia da Expiação: “Isso vos será por estatuto perpétuo: no
sétimo mês, aos dez dias do mês, afligireis a vossa alma e nenhuma obra fareis,
nem o natural nem o estrangeiro que peregrina entre vós. Porque, naquele dia, se
fará expiação por vós, para purificar-vos; e sereis purificados de todos os
vossos pecados perante o SENHOR” (Levítico 16.29,30; cf. 23.27-32; Números
29.7; Jeremias 36.6). Apesar nem o verbo nem o substantivo para jejum e
abstinência ocorram aqui, alguém “afligir a alma” significa abster-se de
alimento. Vejam como o salmista Davi disse que afligia a sua alma: “Quanto a mim, porém, estando eles enfermos,
as minhas vestes eram pano de saco; eu afligia a minha alma com jejum e em
oração me reclinava sobre o peito” (Salmo 35.13). Vejam também a pergunta
dos israelitas descrentes acerca do efeito do jejum praticado por eles: “Por que jejuamos nós, e tu não atentas para
isso? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta?” (Isaías
58.3a; cf. v. 5). Deve ser entendido que a pergunta deles não possuía a
humildade existente naqueles que desejam realmente aprender. Como afirma Raymond
C. Ortlund Jr., “era apenas uma forma de descarregar sua frustração com Deus.
Eles achavam que Deus estava sendo injusto”.[xxx]
De qualquer forma, percebam como “afligir a alma” sempre está relacionado com a
prática do jejum.
Aqui o jejum é praticado
como parte de uma grande contrição e tristeza por causa do pecado cometido
contra o Senhor. O grande problema é que essa prática deveria ser espontânea, e
não algo mecânico. Os judeus perverteram o propósito de Deus quanto ao jejum
praticado no Dia da Expiação. Os israelitas começaram a jejuar meramente para
conseguir obter o favor de Deus quanto a interesses pessoais: “... Eis que, no dia em que jejuais, cuidais
dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho. Eis
que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando
assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto” (Isaías 58.3b,4).
Por exemplo, na época de Jesus, os fariseus jejuavam duas vezes por semana
(segundas e quintas-feiras). E eles faziam isso mecanicamente. A sua intenção
era fazer mais do que a Lei mandava, para ver se conseguiam ter justiça própria
de sobra. Entretanto, Jesus contou uma parábola sobre dois homens: “Um disse:
‘eu jejuo duas vezes por semana’. O outro disse: ‘Ó Deus, sê propício a mim,
pecador’. Somente um desceu para sua casa justificado (Lucas 18.12-14)”.[xxxi]
Os fariseus jejuavam não para afligirem suas almas por causa dos seus pecados,
mas apenas para serem vistos pelos homens.
Nesse contexto de confissão
de pecados, o jejum deveria funcionar apenas como um sinal visível de uma
realidade invisível; um sinal exterior de algo que acontecia no interior do
jejuador. Isso fica claro no livro do profeta Joel: “Ainda assim, agora mesmo, diz o SENHOR:
Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns. Com choro e com
pranto. Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao
SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em
irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal” (Joel
2.12,13).
Extraordinariamente, o
jejum também era praticado em tempos de profunda aflição. Algumas vezes esse
jejum era público, outras vezes era privado. As ocasiões eram as seguintes: 1)
Guerra ou ameaça de guerra (Juízes 20.26; 1 Samuel 7.6); 2) Doenças (2 Samuel
12.16ss; Salmo 35.13); 3) Luto (1 Samuel 31.13; 2 Samuel 1.12); e 4) Perigo
iminente (Esdras 8.21; Ester 4.3,16).
Acrescenta-se a isso, o
fato de que, o jejum sempre era acompanhado de oração. Nunca ninguém jejuava sem
orar durante o período em que se abstinha dos alimentos.
2.2.
No Novo Testamento
2.2.1. A prática do jejum no Novo
Testamento
Quando voltamos os nossos
olhos para o que o Novo Testamento afirma sobre a prática do jejum, a única
diferença que podemos encontrar entre ele e o Antigo Testamento, é que no Novo
nós não encontramos nenhum mandamento específico para dias de jejum. Não existe
nenhuma promulgação de dias de jejum no Novo Testamento.
Isso quer dizer, então,
que, a partir do Novo Testamento o jejum deixa de ser algo válido? De maneira
nenhuma! O Novo Testamento toma o jejum como algo praticado sempre pelos
discípulos de Jesus Cristo. Nós podemos encontrar vários exemplos de pessoas
jejuando no Novo Testamento: 1) Jesus: “A
seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.
E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome” (Mateus
4.1,2); 2) Paulo[xxxii]
e Barnabé: “E, promovendo-lhes, em cada
igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao
Senhor em quem haviam crido” (Atos 14.23); 3) a Igreja reunida: “Havia na
igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger,
Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo
eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e
Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo
sobre eles as mãos, os despediram” (Atos 13.1-3); 4) a profetisa Ana: “...
Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e
orações”
(Lucas 2.37).
Contudo,
as palavras mais importante a respeito da continuidade do jejum para os dias
posteriores ao Novo Testamento, foram pronunciadas pelo próprio Senhor Jesus
Cristo, em Mateus 9.14,15: “Vieram,
depois, os discípulos de João e lhe perguntaram: Por que jejuamos nós, e os
fariseus muitas vezes, e teus discípulos não jejuam? Respondeu-lhes Jesus:
Podem, acaso, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo
está com eles? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo, e nesses
dias hão de jejuar”. Estas palavras de Jesus sobre o jejum são
extraordinárias. Elas deixam claro que o jejum é algo esperado dos discípulos de
Cristo nos dias de hoje, após a sua ascensão aos céus. Richard Foster afirma
que, “talvez essa seja a afirmação mais importante feita no Novo Testamento
sobre ser ou não o jejum um dever para os cristãos de hoje”.[xxxiii]
2.2.2. Os usos do jejum no Novo
Testamento
Na nova administração do
Pacto três usos do jejum recebem destaque: 1) para a piedade pessoal (Mateus
6.16-18); 2) para a eleição, ordenação e instalação da liderança da Igreja (Atos
14.23); e 3) para a ardente expectativa da volta de Cristo (Mateus
9.14,15).
Creio que este último seja
o ponto mais importante do ensino do jejum no Novo Testamento. John Piper define
o jejum como “uma expressão física do desejo ardente do coração pela volta de
Jesus [...] Jesus relaciona o jejum cristão com o nosso anelo pelo retorno do
Noivo”.[xxxiv]
A Igreja é como uma noiva que, ao sentir grandes saudades do seu noivo, deixa
até de comer, entregando-se, assim, à saudade e ao desejo. Esse deve ser o nosso
maior motivador para nos aplicarmos ao jejum privado. Jesus assume que o jejum
está intimamente relacionado com o desejo que os seus discípulos trazem em seu
coração acerca da sua volta. Então, nós temos um indexador do nosso desejo pelo
retorno do nosso Noivo. O jejum é uma constante em nossas vidas? Se sim, isso
significa que o nosso coração tem uma ardente saudade do nosso Noivo. Por outro
lado, se não damos o mínimo valor para a prática do jejum, isso, tristemente,
indica que o nosso coração não está abrasado de saudades do nosso Noivo, o
Senhor Jesus Cristo. Mais uma vez, a afirmação de John Piper chega a ser
dolorosa: “A quase universal ausência de jejum pela volta do Senhor é uma
testemunha de nossa satisfação com a presença do mundo e a ausência do Senhor.
Isso não deveria ser assim”.[xxxv]
O significado do jejum é um coração faminto por Deus!
A prática do jejum coletivo
na Igreja neotestamentária diz respeito a assuntos de grande importância, como a
escolha de sua liderança. Isso se depreende da passagem de Atos 14.23. É
necessário proclamar dias de jejum solene quando o futuro da Igreja estiver em
jogo. Jejuns públicos e coletivos não devem ser marcados sem nenhum propósito.
Nesse ponto, a Confissão de Fé de Westminster é clara:
A leitura das Escrituras, com santo e piedoso temor; a
sã pregação e o consciencioso ouvir da Palavra, em obediência a Deus, com
entendimento, fé e reverência; o cântico de salmos com graça no coração; e bem
assim a devida administração e o digno recebimento dos sacramentos instituídos
por Cristo – são todos partes do culto religioso ordinário oferecido a Deus,
além dos juramentos e votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões
especiais, que devem, em seus diversos tempos e estações, ser usados de uma
forma santa e religiosa.[xxxvi]
[i] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA: Edição revisada de acordo com o texto
oficial em Latim, (São Paulo: Loyola, 2002), 384.
[ii] Ibid, 395,396.
[iii]
Ibid, 537.
[iv]
Isso porque o erro combatido pelo apóstolo Paulo, em 1 Timóteo 4.3, era uma
forma embrionária de Gnosticismo, que adotava o dualismo persa. Tal forma de
gnosticismo é denominada por Hendriksen como “gnosticismo asceta”. Cf. William
Hendriksen, Comentário do Novo
Testamento: 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, (São Paulo: Cultura Cristã, 2001),
184. Calvino relaciona alguns grupos heréticos, como por exemplo, os encratistas, cujo nome é derivado do
grego “continência”, os tacianistas,
os cataristas, Montano e finalmente os maniqueus, “que sentiam extrema aversão
por carne como alimento e pelo matrimônio, e condenavam ambos como sendo
profanos”. Cf. João Calvino, Comentário à
Sagrada Escritura: As Pastorais, (São Paulo: Paracletos, 1998),
109.
[v] Encaixa-se aqui o grande herege
Charles Finney. Ele usava o jejum como uma forma de garantir o recebimento de
poder do alto. Sempre que percebia que o poder divino o abandonava, ele separava
um dia para jejum e oração, de maneira que o poder era, então, renovado. Eis o
seu testemunho: “Eu saía e fazia visitas e achava que não tinha causado nenhuma
impressão salvadora. Eu exortava e orava com o mesmo resultado. Eu então
separava um dia para jejum e oração em particular, temendo que esse poder me
abandonasse, e inquiria ansiosamente qual era a razão dessa aparente vacuidade.
Depois de me humilhar e chorar por socorro, o poder retornava sobre mim com todo
o seu frescor. Essa tem sido a experiência da minha vida”. Citado em John Piper,
Fome por Deus, (São Paulo: Cultura
Cristã, 2006), 109.
[vi]
D. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão
do Monte, (São José dos Campos: Fiel, 1999), 327.
[vii] Luciano Subirá, Compreendendo o Jejum Biblicamente, 3.
Artigo eletrônico.
[viii]
D. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão
do Monte, 322.
[ix]
Citado em John Piper, Fome por Deus, 13.
[x]
Richard Foster, Celebração da
Disciplina, (São Paulo: Vida, 2007), 83.
[xi]
Ibid, 84.
[xii] Deve ser observado que Jesus jejuou
por quarenta dias, quando da ocasião da sua tentação no deserto. No entanto, ele
e seus discípulos foram criticados por não jejuarem (Mateus 9.14,15; Marcos
2.18,19; Lucas 5.33-35), como observa J. P. Lewis in Merrill C. Tenney (Org.),
Enciclopédia da Bíblia Cultura
Cristã, Vol. 3, (São Paulo: Cultura Cristã, 2008), 399. Isso parece ser um
claro indicativo de que, para Jesus, embora o jejum seja esperado dos cristãos,
ele não deve se constituir numa norma fixa, mas sim algo feito com extrema
liberdade.
[xiii] Nas suas famosas Confissões, Santo
Agostinho fala um pouco sobre a sua prática do jejum ao contrapô-la com o desejo
por comer e beber: “Mas por ora esta necessidade me é grata, e luto contra essa
delícia, para que não me domine; é uma guerra cotidiana que sustento com jejum,
reduzindo meu corpo à escravidão”. Cf. Santo Agostinho, Confissões, (São Paulo: Martin Claret,
2002), 238.
[xiv] John Piper cita um sermão pregado
pelo Reformador alemão, baseado em Mateus 4.1, em 1524: “A respeito do jejum eu
digo o seguinte: é correto jejuar frequentemente a fim de subjugar e controlar o
corpo [...] Mas a pessoa não deve jejuar com vistas a merecer alguma coisa por
isso como por boas obras”. John Piper, Fome por Deus, 199.
[xv] Na edição de 1541 das Institutas,
Calvino entende que o jejum é uma prática associada ao arrependimento. Ele
escreve o seguinte sobre a aplicação atual do jejum: “Os pastores atuais não
fariam mal se, toda vez que vissem aproximar-se alguma calamidade, de guerra, de
fome ou peste, fizessem ver a seu povo que seria bom orar ao Senhor com choro e
jejum; desde que se fixassem no principal, que é quebrantar ou romper os
corações e não a roupa. Pois é certo que nem sempre o jejum vem com o
arrependimento, mas essa prática convém particularmente aos que querem declarar
que reconhecem que merecem a ira de Deus e, contudo, pedem o seu perdão por sua
clemência”. Cf. João Calvino, As
Institutas: Edição especial com notas para estudo e pesquisa, Vol. 2, V.10,
(São Paulo: Cultura Cristã, 2006), 136. Na edição de 1559, Calvino dedica um
longo trecho à consideração acerca da prática do jejum. Eis um trecho: “Em suma,
pode-se admitir assim: sempre que surgem controvérsias acerca da religião, a
qual precisa ser decidida ou em um sínodo ou em um tribunal eclesiástico, sempre
que se trata de eleger um ministro, enfim, sempre que se discute alguma coisa
difícil e de grande importância; por outro lado, quando aparecem os juízos da
ira do Senhor, como pestilência, guerra e fome, esta é uma santa e salutar
ordenança em todos os séculos: que os pastores exortem o povo ao jejum público e
orações extraordinárias”. Cf. João Calvino, As Institutas ou Tratado da Religião
Cristã, Livro 4, XII, 14, (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), 234. Edição
eletrônica.
[xvi] John Wesley, num sermão intitulado Causes of Inefficacy of Christianity,
disse uma frase que se tornou famosa: “O homem que nunca jejua não está em
situação diferente, com relação à sua jornada para o céu, do homem que nunca
ora”. Citado em John Piper, Fome por
Deus, 205.
[xvii] Jonathan Edwards era incisivo quanto
ao jejum ser praticado por ministros do Evangelho. Ele escreveu o seguinte em Thoughts on the Revival of Religion in New
England: “Nós que somos ministros, não só temos necessidade de um pouco da
verdadeira experiência da influência salvífica do Espírito de Deus em nossos
corações, mas nós necessitamos de uma porção dobrada em um tempo como este.
Precisamos ser cheios de luz como um vidro colocado sob o sol; e, com respeito
ao amor e zelo, precisamos ser como os anjos que são chamas de fogo. O estado
dos tempos requer uma plenitude do Espírito divino nos ministros, e não
deveríamos dar a nós mesmos nenhum descanso até que obtivéssemos isso. E, para
fazer isto, eu penso que os ministros, acima de todas as pessoas, deveriam estar
muito mais em oração e jejum, em secreto e uns com os outros. Parece-me que
seria favorável às atuais circunstâncias, que os ministros de uma vizinhança se
encontrassem frequentemente, e gastando dias em jejuns e oração fervorosa entre
eles, buscando suprimentos extraordinários da graça divina dos céus”.
Cf. Jonathan Edwards, The
Works of Jonathan Edwards, Vol. 1, (Grand Rapids, MI: Christian Classics
Ethereal Library, 2002), 1458,1459. Extraído do site http://www.ccel.org/ccel/edwards/works1.html. Minha tradução.
[xviii] Existem alguns registros no diário de
David Brainerd que mostram como era constante a sua prática do jejum. No dia 30
de junho de 1742 ele escreveu: “Passei o dia sozinho no bosque, em jejum e
oração; experimentei os mais temíveis conflitos de alma”. Em 20 de abril de
1743, Brainerd escreveu: “Separei este dia para jejum e oração, inclinando minha
alma diante de Deus com o fim de receber mais de sua graça, sobretudo para que
toda a minha aflição espiritual e inquietude interior fossem santificadas para a
minha alma”. No dia 10 de novembro do mesmo ano temos mais um registro: “Passei
este dia sozinho, em jejum e oração”. Cf. Jonathan Edwards, A Vida de David Brainerd entre os
Índios, (São José dos Campos: Fiel, 2005), 34,50,60.
[xix] Eis o testemunho de Spurgeon: “Os
nossos períodos de jejum e oração no Tabernáculo têm sido realmente dias
sublimes; nunca o portão dos céus estivera tão largamente aberto; nunca os
nossos corações estiveram tão perto da glória celestial”. Citado em Edward
McKendree. Bounds, Poder Através da
Oração, (São Paulo: Batista Regular, s/d), 12. Edição eletrônica extraída do
site http://www.monergismo.com.
[xxiv] Dallas Willard, O Espírito das Disciplinas, (Rio de
Janeiro: Danprewan, 2003), 189.
[xxv]
Richard Foster, Celebração da
Disciplina, 85.
[xxvii]
D.
Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do
Monte, 325.
[xxviii]
John Piper, Fome por Deus, 19.
[xxx] Raymond C. Ortlund Jr., Isaías: Deus Salva Pecadores, (Rio de
Janeiro: CPAD, 2009), 487.
[xxxii] Paulo ainda afirma o seguinte sobre a
sua prática de jejum: “Pelo contrário, em
tudo recomendamo-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência,
nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos
tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns” (2 Coríntios 6.4,5); “em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas
vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez” (2
Coríntios 11.27). Esta última referência, possivelmente, se trate de algo não
religioso, mas sim de caráter circunstancial, devido aos sofrimentos impostos
sobre Paulo.
[xxxiii]
Richard Foster, Celebração da
Disciplina, 90.
[xxxv] Ibid, 93.
[xxxvi] A. A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.
A. Hodge, (São Paulo: Os Puritanos, 1999), 377
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